segunda-feira, 20 de junho de 2016

Como surgiu o origami?

Os estudiosos acreditam que essa arte de fazer pequenas esculturas com dobraduras de papel tenha nascido junto com a própria matéria-prima que ela utiliza. Os primeiros registros do surgimento do papel vêm da China do ano 105 d.C. De lá, monges budistas levaram o método de fabricação do produto para outros países asiáticos, a partir do século VII. Um desses países foi o Japão, onde a técnica do origami, importada junto com o papel, iria se desenvolver. Já no século VIII, as dobraduras passaram a fazer parte de cerimônias xintoístas, representando divindades adoradas pelos japoneses. Os sacerdotes xintoístas pregavam regras rígidas para a arte com papéis, proibindo que as folhas fossem cortadas ou coladas, pois acreditavam que dessa forma honravam os espíritos das árvores que davam vida ao papel. Com o passar dos séculos, essas limitações foram atenuadas com o uso de novas técnicas.
No kirigami, por exemplo, as formas começaram a ser feitas com pequenos pedaços de papel que eram unidos, em vez de usar uma única folha. No kirikomiorigami, a cola podia ser empregada. Até o século XIX, porém, a arte das dobraduras era restrita aos adultos por causa do alto custo dos papéis. A situação mudou a partir de 1876, quando o origami passou a fazer parte da educação dos japoneses nas escolas. Também foi até o final do século XIX que surgiram alguns dos formatos de dobraduras mais famosos até hoje, como o pássaro tsuru. Aliás, as representações mais populares são exatamente as de animais, a maioria deles com uma simbologia especial. Nos anos 80, surgiu uma nova técnica: o origami arquitetônico, que cria dobraduras em três dimensões, enriquecendo tanto os detalhes que, além de ser uma forma de arte, também é usado por arquitetos para produzir maquetes.
Dobraduras clássicasCada animal tem uma simbologia
Tsuru

Esse pássaro, da família das garças e das cegonhas, é feito quando os japoneses desejam conseguir algo. Para pedir a cura de um enfermo, por exemplo, eles dobram e oferecem tsurus ao doente. Ele também é usado nas mais diferentes festividades, como símbolo de saúde e fortuna. Na cerimônia de entrega da taça da última Copa do Mundo, entre os papeizinhos que voavam em volta do capitão brasileiro Cafu, estavam quase 3 milhões de tsurus feitos por estudantes japoneses.
Matéria-prima especial
No Japão, as dobraduras são feitas com qualquer tipo de papel, até mesmo folhas de jornal. Mas os origamistas empenhados em desenvolver um trabalho mais sofisticado usam um papel especial chamado washi. Feito de maneira artesanal, ele é, ao mesmo tempo, mais maleável e resistente que o papel industrializado, além de trazer um acabamento texturizado.
Sapo

A figura do sapo está identificada com o retorno e expressa um desejo de que as coisas boas voltem. Isso porque a palavra sapo em japonês tem o mesmo som da palavra retorno. Portanto, confeccionar um sapo de origami e carregá-lo como amuleto é acreditar em coisas como a volta do dinheiro gasto ou a volta da saúde para uma pessoa que está doente
Tartaruga 
Jacky-GreenTurtle
Por viver muitos anos, a tartaruga está naturalmente associada à longevidade. Um mito oriental diz que se o tsuru, a ave da felicidade, vive mil anos, a tartaruga vive dez vezes mais - e todas as criaturas que vivem bastante atingem um estágio de sabedoria e experiência muito superior ao dos outros seres vivos. A tartaruga expressa o desejo de vida longa para quem a recebe.

Pequena história sobre ORIGAMI

ORIGAMI é uma palavra japonesa composta do verbo dobrar (折り=ori) e do substantivo papel (=kami). Significa literalmente, "dobrar papel". Os registros sobre a sua origem não são claros, mas a ideia de que teria surgido na China junto com a invenção do papel é descartada, pois as evidências sugerem que lá a sua função foi para escrever (Hatori em K’s Origami ). Para se fazer o ORIGAMI, tradicionalmente, começa-se com um papel cortado em forma de um quadrado perfeito. A inspiração dos origamistas (as pessoas que se dedicam à arte do Origami) está, principalmente, nos elementos da Natureza e nos objetos do dia-a-dia. Para o origamista, o ato de dobrar o papel representa a transformação da vida e ele tem a consciência de que esse pedaço, um dia, foi a semente de uma planta que germinou, cresceu e se transformou numa árvore. E que depois, o homem transformou a planta em folhas de papel, cortando-as em quadrados, dobrando-as em várias formas geométricas representando animais, plantas ou outros objetos. Onde os outros viam apenas uma folha quadrada, o origamista pode ver a origem de todas as formas se transbordando.  Tradicionalmente, nada é cortado, colado ou desenhado. Para o mestre origamista, Akira Yoshisawa, o origami é um diálogo entre o artista e o papel (Prieto, 2008).  

No Japão, o papel foi introduzido pelos monges budistas coreanos, em torno de ano de 610 e os japoneses desenvolveram a sua própria tecnologia usando fibras vegetais extraídas de plantas nativas: o kozo para papel resistente, o gampi para os nobres e mitsumata, para os mais delicados. O papel tipicamente japonês ficou conhecido como washi e sobre ele podia-se escrever ou usá-lo para várias finalidades, inclusive para o origami.
O registro mais antigo sobre dobradura papel está num poema de Ihara Saikaku datado de 1680, quando a palavra “orisue” (forma arcaica) referente ao origami foi utilizada. A prática da dobradura era restrita às cerimônias religiosas e festivas. Como exemplo de origami cerimonial temos o casal de borboletas (ocho e mecho) que enfeitam a garrafa de saquê (vinho de arroz) nos casamentos. Tem ainda o noshi cuja dobradura é colocada nos envelopes cerimoniais ou em presentes de grande valor. No livro de Ise Sadatake, “Tsutsumi-no Ki" (1764) os origamis cerimoniais foram criados no Período Muromachi (1336 a 1573).
No Periodo Edo (1603 a 1867), o papel tornou-se mais abundante, os origamis tradicionais que conhecemos hoje se tornaram populares. Foram publicadas duas obras contendo as orientações para a execução de origamis: “Hidem Sembazuru Orikata por Akisato Rito (1797) e “Kayaragusa” por Adachi Kazuyuki (1845). Essa última obra ficou conhecida como “Kan no Mado”.  O grou-japonês ou tsuru, uma ave considerada tradicionalmente sagrada, tornou-se o símbolo do origami. Ninguém sabe quem é o autor da sua criação. O grou tem uma vida longa e por isso foi associado à prosperidade, saúde e felicidade. Nas festividades o grou está presente  nos papeis de presente ou na forma de dobraduras. Veja o passo-a-passo para dobrar o tsuru e conheça uma história real e muito comovente sobre uma garota corajosa chamada Sadako Sasaki.







  Pajarita espanhola
http://scoutsdeandalucia.org/publicaciones/brico/manualidades/papiroflexia.htm

Os mouros (que já conheciam a produção de papel) eram exímios dobradores de papel e influenciaram fortemente a cultura espanhola. Eles faziam apenas figuras geométricas, pois a religião muçulmana não permitia que os animais fossem representados e essas dobraduras fascinaram o filósofo Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca. Durante a inauguração da Torre Eiffel (1889), conheceu as dobraduras japonesas e passou a promover a "papiroflexia” palavra espanhola para a arte de dobrar papel. Na Espanha, por coincidência ou não, uma dobradura de ave muito popular, a “pajarita” é sinônimo de papiroflexia. Entretanto, Hatori (blogue K’s Origami) acredita que as regras básicas da dobradura japonesa e moura são muito distintas e, podem de ter surgido de forma independente nas duas culturasVeja como dobrar a "pajarita" e compare. No Brasil o origami foi introduzido pelos imigrantes japoneses e na Argentina, pelos colonizadores espanhóis.












 Akira Yoshisawa                      "Elefante" dobrado pelo mestre
Foto de Akira Yoshisawa: http://www.ericjoisel.com/home.html

Até 1950-60, a técnica do origami era imutável e os modelos foram reproduzidos de uma geração para outra, anonimamente. Uchiyama Koko foi o primeiro a patentear as suas criações. É fato que a evolução ou a transformação da cultura faz parte da essência natural da condição humana. As inquietações criativas e inovadoras do mestre de origami, Akira Yoshisawa eram incessantes: ele padronizou regras para representação gráfica das dobras do origami, sistematizou um conjunto de dobras que servem de base para vários origamis e quebrou paradigmas tradicionais introduzindo a técnica do wet folding, ou seja, dobrar com o papel molhado. Saiba sobre wet folding explicado de forma didática porNorberto Kawakami no seu Blog Origami. Transformando papel em Arte”. Veja os símbolos universais padronizados pelo mestre japonês clicando nos dois links: 12; aprecie uma amostra com centenas de aves e animais criados com realismo que impressionaram o mundo, clicando aqui. Os trabalhos de Akira Yoshisawa foram reconhecidos internacionalmente e houve uma grande explosão do origami entre 1950-60, especialmente nos EUA. Lá, em 1958, Lilian Oppenheimer, uma grande entusiasta do origami fundou o The Origami Center New York e podemos dizer que duas vertentes de origamistas surgiram: a da escola oriental mais voltada para o exercício artístico e a escola ocidental, praticada por matemáticos, arquitetos e engenheiros que usam o origami como uma ferramenta de trabalho acadêmico. Esses origamistas perseguem a exatidão anatômica da forma e das proporções recorrendo a processos matemáticos, técnicas geométricas de desenho e recursos computacionais. Mesmo no Japão, há vários pesquisadores de origamis (os chamados detetives de origami ou “origami tanteidan”) que também buscam inovações e recriações. Eric Joisel é um desses artistas cuja habilidade impressiona pelo realismo das suas criações. Os origamistas geométricos descobriram que no ato de dobrar o papel além da atividade artesanal, criativa e artística está ocorrendo um fenômeno de precisão matemática. Você sabia que quando fazemos origamis, obedecemos princípios matemáticos formados por 7 axiomas? Em 1893, Tandalam Sundara Row publicou na Índia, o livro “Geometric Exercises in paper folding” (Exercícios geométricos na dobradura de papel). Entre os teóricos mais populares e atuais está o engenheiro Robert J. Lang que criou um programa de computação (TreeMaker) para projetar a construção de origamis com precisão matemática.