segunda-feira, 20 de junho de 2016

Como surgiu o origami?

Os estudiosos acreditam que essa arte de fazer pequenas esculturas com dobraduras de papel tenha nascido junto com a própria matéria-prima que ela utiliza. Os primeiros registros do surgimento do papel vêm da China do ano 105 d.C. De lá, monges budistas levaram o método de fabricação do produto para outros países asiáticos, a partir do século VII. Um desses países foi o Japão, onde a técnica do origami, importada junto com o papel, iria se desenvolver. Já no século VIII, as dobraduras passaram a fazer parte de cerimônias xintoístas, representando divindades adoradas pelos japoneses. Os sacerdotes xintoístas pregavam regras rígidas para a arte com papéis, proibindo que as folhas fossem cortadas ou coladas, pois acreditavam que dessa forma honravam os espíritos das árvores que davam vida ao papel. Com o passar dos séculos, essas limitações foram atenuadas com o uso de novas técnicas.
No kirigami, por exemplo, as formas começaram a ser feitas com pequenos pedaços de papel que eram unidos, em vez de usar uma única folha. No kirikomiorigami, a cola podia ser empregada. Até o século XIX, porém, a arte das dobraduras era restrita aos adultos por causa do alto custo dos papéis. A situação mudou a partir de 1876, quando o origami passou a fazer parte da educação dos japoneses nas escolas. Também foi até o final do século XIX que surgiram alguns dos formatos de dobraduras mais famosos até hoje, como o pássaro tsuru. Aliás, as representações mais populares são exatamente as de animais, a maioria deles com uma simbologia especial. Nos anos 80, surgiu uma nova técnica: o origami arquitetônico, que cria dobraduras em três dimensões, enriquecendo tanto os detalhes que, além de ser uma forma de arte, também é usado por arquitetos para produzir maquetes.
Dobraduras clássicasCada animal tem uma simbologia
Tsuru

Esse pássaro, da família das garças e das cegonhas, é feito quando os japoneses desejam conseguir algo. Para pedir a cura de um enfermo, por exemplo, eles dobram e oferecem tsurus ao doente. Ele também é usado nas mais diferentes festividades, como símbolo de saúde e fortuna. Na cerimônia de entrega da taça da última Copa do Mundo, entre os papeizinhos que voavam em volta do capitão brasileiro Cafu, estavam quase 3 milhões de tsurus feitos por estudantes japoneses.
Matéria-prima especial
No Japão, as dobraduras são feitas com qualquer tipo de papel, até mesmo folhas de jornal. Mas os origamistas empenhados em desenvolver um trabalho mais sofisticado usam um papel especial chamado washi. Feito de maneira artesanal, ele é, ao mesmo tempo, mais maleável e resistente que o papel industrializado, além de trazer um acabamento texturizado.
Sapo

A figura do sapo está identificada com o retorno e expressa um desejo de que as coisas boas voltem. Isso porque a palavra sapo em japonês tem o mesmo som da palavra retorno. Portanto, confeccionar um sapo de origami e carregá-lo como amuleto é acreditar em coisas como a volta do dinheiro gasto ou a volta da saúde para uma pessoa que está doente
Tartaruga 
Jacky-GreenTurtle
Por viver muitos anos, a tartaruga está naturalmente associada à longevidade. Um mito oriental diz que se o tsuru, a ave da felicidade, vive mil anos, a tartaruga vive dez vezes mais - e todas as criaturas que vivem bastante atingem um estágio de sabedoria e experiência muito superior ao dos outros seres vivos. A tartaruga expressa o desejo de vida longa para quem a recebe.

Pequena história sobre ORIGAMI

ORIGAMI é uma palavra japonesa composta do verbo dobrar (折り=ori) e do substantivo papel (=kami). Significa literalmente, "dobrar papel". Os registros sobre a sua origem não são claros, mas a ideia de que teria surgido na China junto com a invenção do papel é descartada, pois as evidências sugerem que lá a sua função foi para escrever (Hatori em K’s Origami ). Para se fazer o ORIGAMI, tradicionalmente, começa-se com um papel cortado em forma de um quadrado perfeito. A inspiração dos origamistas (as pessoas que se dedicam à arte do Origami) está, principalmente, nos elementos da Natureza e nos objetos do dia-a-dia. Para o origamista, o ato de dobrar o papel representa a transformação da vida e ele tem a consciência de que esse pedaço, um dia, foi a semente de uma planta que germinou, cresceu e se transformou numa árvore. E que depois, o homem transformou a planta em folhas de papel, cortando-as em quadrados, dobrando-as em várias formas geométricas representando animais, plantas ou outros objetos. Onde os outros viam apenas uma folha quadrada, o origamista pode ver a origem de todas as formas se transbordando.  Tradicionalmente, nada é cortado, colado ou desenhado. Para o mestre origamista, Akira Yoshisawa, o origami é um diálogo entre o artista e o papel (Prieto, 2008).  

No Japão, o papel foi introduzido pelos monges budistas coreanos, em torno de ano de 610 e os japoneses desenvolveram a sua própria tecnologia usando fibras vegetais extraídas de plantas nativas: o kozo para papel resistente, o gampi para os nobres e mitsumata, para os mais delicados. O papel tipicamente japonês ficou conhecido como washi e sobre ele podia-se escrever ou usá-lo para várias finalidades, inclusive para o origami.
O registro mais antigo sobre dobradura papel está num poema de Ihara Saikaku datado de 1680, quando a palavra “orisue” (forma arcaica) referente ao origami foi utilizada. A prática da dobradura era restrita às cerimônias religiosas e festivas. Como exemplo de origami cerimonial temos o casal de borboletas (ocho e mecho) que enfeitam a garrafa de saquê (vinho de arroz) nos casamentos. Tem ainda o noshi cuja dobradura é colocada nos envelopes cerimoniais ou em presentes de grande valor. No livro de Ise Sadatake, “Tsutsumi-no Ki" (1764) os origamis cerimoniais foram criados no Período Muromachi (1336 a 1573).
No Periodo Edo (1603 a 1867), o papel tornou-se mais abundante, os origamis tradicionais que conhecemos hoje se tornaram populares. Foram publicadas duas obras contendo as orientações para a execução de origamis: “Hidem Sembazuru Orikata por Akisato Rito (1797) e “Kayaragusa” por Adachi Kazuyuki (1845). Essa última obra ficou conhecida como “Kan no Mado”.  O grou-japonês ou tsuru, uma ave considerada tradicionalmente sagrada, tornou-se o símbolo do origami. Ninguém sabe quem é o autor da sua criação. O grou tem uma vida longa e por isso foi associado à prosperidade, saúde e felicidade. Nas festividades o grou está presente  nos papeis de presente ou na forma de dobraduras. Veja o passo-a-passo para dobrar o tsuru e conheça uma história real e muito comovente sobre uma garota corajosa chamada Sadako Sasaki.







  Pajarita espanhola
http://scoutsdeandalucia.org/publicaciones/brico/manualidades/papiroflexia.htm

Os mouros (que já conheciam a produção de papel) eram exímios dobradores de papel e influenciaram fortemente a cultura espanhola. Eles faziam apenas figuras geométricas, pois a religião muçulmana não permitia que os animais fossem representados e essas dobraduras fascinaram o filósofo Miguel de Unamuno, reitor da Universidade de Salamanca. Durante a inauguração da Torre Eiffel (1889), conheceu as dobraduras japonesas e passou a promover a "papiroflexia” palavra espanhola para a arte de dobrar papel. Na Espanha, por coincidência ou não, uma dobradura de ave muito popular, a “pajarita” é sinônimo de papiroflexia. Entretanto, Hatori (blogue K’s Origami) acredita que as regras básicas da dobradura japonesa e moura são muito distintas e, podem de ter surgido de forma independente nas duas culturasVeja como dobrar a "pajarita" e compare. No Brasil o origami foi introduzido pelos imigrantes japoneses e na Argentina, pelos colonizadores espanhóis.












 Akira Yoshisawa                      "Elefante" dobrado pelo mestre
Foto de Akira Yoshisawa: http://www.ericjoisel.com/home.html

Até 1950-60, a técnica do origami era imutável e os modelos foram reproduzidos de uma geração para outra, anonimamente. Uchiyama Koko foi o primeiro a patentear as suas criações. É fato que a evolução ou a transformação da cultura faz parte da essência natural da condição humana. As inquietações criativas e inovadoras do mestre de origami, Akira Yoshisawa eram incessantes: ele padronizou regras para representação gráfica das dobras do origami, sistematizou um conjunto de dobras que servem de base para vários origamis e quebrou paradigmas tradicionais introduzindo a técnica do wet folding, ou seja, dobrar com o papel molhado. Saiba sobre wet folding explicado de forma didática porNorberto Kawakami no seu Blog Origami. Transformando papel em Arte”. Veja os símbolos universais padronizados pelo mestre japonês clicando nos dois links: 12; aprecie uma amostra com centenas de aves e animais criados com realismo que impressionaram o mundo, clicando aqui. Os trabalhos de Akira Yoshisawa foram reconhecidos internacionalmente e houve uma grande explosão do origami entre 1950-60, especialmente nos EUA. Lá, em 1958, Lilian Oppenheimer, uma grande entusiasta do origami fundou o The Origami Center New York e podemos dizer que duas vertentes de origamistas surgiram: a da escola oriental mais voltada para o exercício artístico e a escola ocidental, praticada por matemáticos, arquitetos e engenheiros que usam o origami como uma ferramenta de trabalho acadêmico. Esses origamistas perseguem a exatidão anatômica da forma e das proporções recorrendo a processos matemáticos, técnicas geométricas de desenho e recursos computacionais. Mesmo no Japão, há vários pesquisadores de origamis (os chamados detetives de origami ou “origami tanteidan”) que também buscam inovações e recriações. Eric Joisel é um desses artistas cuja habilidade impressiona pelo realismo das suas criações. Os origamistas geométricos descobriram que no ato de dobrar o papel além da atividade artesanal, criativa e artística está ocorrendo um fenômeno de precisão matemática. Você sabia que quando fazemos origamis, obedecemos princípios matemáticos formados por 7 axiomas? Em 1893, Tandalam Sundara Row publicou na Índia, o livro “Geometric Exercises in paper folding” (Exercícios geométricos na dobradura de papel). Entre os teóricos mais populares e atuais está o engenheiro Robert J. Lang que criou um programa de computação (TreeMaker) para projetar a construção de origamis com precisão matemática.

sábado, 30 de abril de 2016

Vanguardas europeias

Vanguardas europeias

Embora apresentassem propostas artísticas específicas, as vanguardas europeias estavam unidas pelo mesmo sentimento: o desejo de renovação nas artes.

Você sabe o que são as vanguardas europeias?
Chamamos de vanguardas europeias o conjunto de tendências artísticas vindas de diferentes países europeus cujo principal objetivo era levar para a arte o sentimento de liberdade criadora, a subjetividade e até mesmo certo irracionalismo, sobretudo em um contexto em que as correntes filosóficas de cunho positivista influenciavam toda produção artística da época. Os movimentos de vanguarda emergiram nas duas primeiras décadas do século XX e provocaram uma ruptura com a tradição cultural do século XIX, influenciando não apenas as artes plásticas, mas também outras manifestações artísticas, entre elas a literatura.
Do francês avant-garde, a palavra vanguarda significa “o que marcha na frente”. As correntes de vanguarda, embora apresentassem propostas específicas, pregavam um mesmo ideal: era preciso derrubar a tradição por meio de práticas inovadoras, capazes de subverter o senso comum e captar as tendências do futuro. Essas propostas, incompreendidas à época em virtude, principalmente, do contexto conservador no qual estavam inseridas, adquiriram importância histórica e influenciaram o trabalho de vários artistas no mundo. No Brasil, as vanguardas estiveram intrinsecamente relacionadas com a primeira geração do Modernismo, uma vez que seus representantes (presentes na literatura, na arquitetura, nas artes plásticas ou na música), contagiados pelo sentimento de renovação, observaram a necessidade de alinhar o pensamento artístico brasileiro às vanguardas que surgiram na França no início do século XX.
As principais correntes de vanguarda foram:
Cubismo: Tendência artística que influenciou escritores e artistas plásticos no início do século 20, o Cubismo deixou suas marcas ao imprimir novas técnicas narrativas que fragmentavam a realidade e permitiam uma desconstrução da visão clássica sobre o tempo e o espaço. Na Literatura Brasileira, sua influência pode ser percebida por meio da leitura do livro Memórias Sentimentais de JoãoMiramar, de Oswald de Andrade.
Futurismo: Entre as outras tendências vanguardistas, o Futurismo, difundido principalmente por meio de manifestos (vide o Manifesto Futurista escrito pelo poeta Filippo Tommaso Marinetti), foi o movimento mais radical e subversivo. No Brasil, suas características podem ser encontradas na obra literária de Mário de Andrade.
Dadaísmo: Criado na Suíça durante a Primeira Guerra Mundial, o Dadaísmo surgiu como resposta ao clima de instabilidade provocado pelo conflito bélico. Sua principal característica é a linguagem peculiar, permeada pelo deboche e pelos ilogismos dos textos, além da aversão a qualquer conceito racionalizado sobre a arte.
ExpressionismoTendência artística que valorizava a subjetividade, o Expressionismo surgiu no começo do século XX e foi representado por pintores alemães e franceses. Opondo-se à estética impressionista, os expressionistas preconizavam a arte como elemento legítimo para a expressão dos sentimentos do artista.
Surrealismo: Surgido na França em 1924, o Surrealismo defendeu a criação por meio das experiências nascidas no imaginário e da atmosfera onírica. Na Literatura Brasileira, influenciou escritores como Oswald e Mário de Andrade e, posteriormente, Murilo Mendes e Jorge de Lima (escritores da geração de 1930).
No Brasil, todas essas tendências foram chamadas de Modernismo, movimento que equivale ao Futurismo, para os italianos, e ao Expressionismo, para os alemães. Graças à Semana de Arte Moderna de 1922, o movimento de renovação tomou rumos definidos em nosso país, apresentando propostas consistentes.
Para ajudá-lo(a) a compreender a importância das vanguardas europeias e sua influência na cultura brasileira, o Mundo Educação preparou uma seção dedicada ao assunto. Nela você encontrará artigos que têm como objetivo apresentar as características de cada uma das principais correntes, bem como discutir a importância do movimento para a ruptura com a tradição cultural do século XIX.

VANGUARDAS ARTÍSTICAS HISTÓRICAS

VANGUARDAS ARTÍSTICAS HISTÓRICAS
Reginaldo Leite

CUBISMO - O Cubismo pode ser considerado o verdadeiro início da arte contemporânea, pois continha, potencialmente, todas as principais tendências artísticas que marcaram o século XX. A influência de Paul Cézanne sobre GeorgesBraque, que também se exerceu sobre Pablo Picasso, foi o mais importante fator para o nascimento do movimento gerado a partir das experiências dos mesmos.

"As Senhoritas de Avignon" 
Pablo Picasso, 1907

Cubismo desenvolveu-se inicialmente na pintura, valorizando as formas geométricas (como esferas, cones e cilindros) ao mesmo tempo em que revelava um objeto em seus múltiplos ângulos. A pintura cubista surgiu em 1907 e conheceu seu declínio com a Primeira Guerra, terminando em 1914.

Em 1908, o artista Georges Braque expôs alguns quadros em Paris no Salão de Outono. Numa de suas telas apareciam telhados que se fundiam com árvores, dando a sensação de cubos. O pintor Henri Matisse teria expressado nesta oportunidade, que "ele despreza as formas, reduz tudo a esquemas geométricos, a cubos", derivando daí a denominação Cubismo. O pintor espanhol Pablo Picasso é considerado como o gênio do Cubismo, e seu nome se transformou em ícone do movimento cubista.


"Casas e àrvores"
George Braque, 1908

Do Cubismo nasceram o Neo-plasticismo (arte geométrico-construtiva) de Piet Mondrian de que derivaria a Arte Concreta, a Arte Neoconcreta brasileira e a Optical Art. O Dadaísmo com o Papier collé(colagens) que o dadaísta Kurt Schwitters com seus merzbilder criaria as primeiras instalações. FrancisPicabia e Marcel Duchamp também aderiram aoCubismo dando origem ao Dadaísmo (inspirador da Art Pop norte-americana) e ao Futurismo. As Vanguardas Russas, com influência sobre o Suprematismo de Kazimir Malevitch, o Construtivismo de Antoine Pevsnere Naum Gabo e contra-relevos de Vladimir Tatlin e Alexander Rodchenko. A Arte do objeto, (antecipação) uso de novos materiais e reciclagem dos dejetos do cotidiano (ex. esculturas Bandolins, guitarras, etc. de Pablo Picasso - 1911/12)

Principais artistas: Pablo Picasso, Georges Braque, JuanGris, Robert Delaunay, Fernand Léger, Albert Gleizes e Jean Metzinger.


Características do Cubismo:
· utilização das formas geométricas para representar as figuras, não se obedecendo os princípios clássicos de representação dos objetos tais como são vistos; 
· destruição da harmonia das cores e formas; 
· decomposição das figuras ao extremo, abandonando a aparência real das coisas; 
· apresentação dos objetos com todas as suas partes num mesmo plano; 
· a preocupação não é o que se representa, mas como se representa; 
· o objeto pintado é fruto de uma decomposição e de uma recomposição do objeto feita pelo artista.


FUTURISMO

"Dança do Mar"
Gino Severini, 1914
Futurismo, movimento de artistas italianos, deve ser considerado o primeiro movimento artístico tipicamente de vanguarda, embora tenha surgido um pouco depois doCubismo.

O primeiro manifesto do movimento foi publicado em 20 de fevereiro de 1909, em Paris no "Le Figaro" e não na Itália, assinado por Filippo Tommaso Marinetti(1876/1944); apresentava como pontos fundamentais a exaltação da vida moderna, da máquina, da eletricidade, do automóvel e da velocidade.

 Período 1909 a 1914.

Principais artistas: Umberto Boccioni, Carlo Carrá, LuigiRussolo,  Gino Severini, Giacomo Balla.

"Formas de Continuidade no Espaço"
Humberto Boccioni, 1913



Características do Futurismo:
· Precedência da teoria sobre a prática e pretensão de ser "moderno", com exclusividade da expressão mais avançada da arte do seu tempo, características que, também, marcaram outros movimentos de vanguarda.
· Movimento que mais produziu manifestos.
· Expressão do dinamismo, ponto essencial da estética futurista.
· Busca de uma linguagem intensa, dinâmica, audaciosa capaz de expressar as novas concepções de espaço e movimento.



EXPRESSIONISMO

"Retrato de Ernst Ludwig Kirchner"
Erich Heckel, 1913
Expressionismo talvez seja o único movimento de vanguarda histórica cujas idéias mantêm hoje relativa atualidade: é que ao contrário do Futurismo e doConstrutivismo, por exemplo, o Expressionismo, pelo menos durante a fase inicial, contestou a sociedade industrial, a massificação e pregou o retorno à natureza. A sua visão de arte revolucionária não coincidia com a noção de progresso tecnológico.

O movimento surgiu em 1910, na Alemanha, trazendo uma forte herança da arte do final do século XIX, preocupada com as manifestações do mundo interior e com uma forma de expressá-las. Daí o importante ser a expressão, ou seja, a materialização numa tela ou numa folha de papel, de imagens nascidas em nosso mundo interior, pouco importando os conceitos então vigentes de belo e feio. Por suas características, o Expressionismo desenvolveu-se mais na pintura, dando continuidade a um trabalho iniciado por Vincent Van Gogh, Paul Cézane e PaulGauguin.

"Mulheres na rua"
Ernst Kirchner, 1915

Esse movimento artístico procura através da distorção da realidade visível, dar expressão chocante aos sentimentos humanos: seu estado de amargura, espanto, insatisfação e todos os impactos negativos da sociedade dita moderna.

Expressionismo pode ser visto como uma tendência permanente da arte, especialmente nos países nórdicos, que se acentua nos períodos de crise social ou espiritual, encontrando, assim, na época moderna um terreno propício para se desenvolver.

Principais artistas: Ernst Kirchner, Erich Heckel, KarlSchmidt, Wassily Kandinsky, Edvard Munch, OskarKokoschka.


Características do Expressionismo:
· deformação proposital da realidade; 
· abandono das regras tradicionais de equilíbrio da composição temática; · abandono da harmonia das cores e formas; 
· expressão veemente do pessimismo; 
· importância dos sentimentos humanos (angústia, desespero e amargura).
· a expressão de uma autenticidade fundamental do ser humano, que se exprime em explosões de cores violentas e traços dramáticos.


DADAÍSMO

"Fonte"
Marcel Duchamp, 1917
Em 1916, em plena guerra, quando tudo fazia supor uma vitória alemã, um grupo de refugiados em Zurique, na Suíça, inicia o mais radical movimento da vanguarda européia: o Dadaísmo. A própria palavra dadá, escolhida (segundo eles, ao acaso) para batizar o movimento, não significa nada. Negando o passado, o presente e o futuro, o Dadaísmo é a total falta de perspectiva diante da guerra; daí ser contra as teorias e as ordenações lógicas. Aliás, também é contra os manifestos, como afirma um de seus iniciadores, Tristan Tzara (1896/1963), em seu Manifesto Dadá 1918. Importante era criar palavras pela sonoridade, quebrando as barreiras do significado, importante era o grito, o urro contra o capitalismo burguês e o mundo em guerra.

Dadaísmo foi o mais radical de todos os movimentos de vanguarda surgidos no começo do século XX. O Cubismo, o Futurismo e oExpressionismo se negaram à estética ou aos estilos anteriores a eles, propuseram uma nova estética ou um novo estilo. O Dadaísmo não: ele nega toda a arte do passado - inclusive a moderna - e nada propõe. Ou, melhor, propõe a morte da arte. Nega não apenas a arte, mas também a moral, a política e a religião. Nega até a si mesmo "Ser dadá é ser antidadá", afirma em um de seus manifestos.

Principais artistas: Tristan Tzara, Francis Picabia, Marcel Duchamp, Raoul Hausmann, Hans Arp, Hans Richter, Kurt Shwitters.

"Colagem sobre óleo - Weltenkreise"
Kurt Schwitters, 1911.


Características do Dadaísmo:
· não significou um movimento artístico no sentido tradicional, mas uma rebelião, um novo modo de pensar, um novo sentir, um novo saber, uma arte nova em meio a uma liberdade nova;
· forma de expressão de modo positivo enquanto possibilitou total liberdade de criação, que nos foi deixada como legado;
· forma de expressão de modo negativo quando invocava a destruição da arte, a não arte, a antiarte, negando até mesmo, a própria revolução Dadá;
· não propunha nenhum estilo;
· utilização da fotomontagem (descoberta pelos dadaístas) como meio para o sarcasmo;
· rompimento com o fazer artístico causado pela utilização e apropriação do que já estava feito (ready-mades).



SURREALISMO


"A persistência da Memória"
Salvador Dalí, 1931.
O Manifesto Surrealista foi lançado em Paris, em 1924, por André Breton (1896-1970), um ex-participante do Dadaísmo, que rompera com Tristan Tzara. É importante salientar que o Surrealismo é um movimento de vanguarda iniciado no período entre guerras, ou seja, foi criado sobre as cinzas da Primeira Guerra e sobre a experiência acumulada de todos os outros movimentos. Entretanto, suas origens estão mais próximas do Expressionismo e da sondagem do mundo interior, em busca do homem primitivo, da liberação do inconsciente e da valorização do sonho.

O Surrealismo conhece uma ruptura interna quando André Breton faz uma opção pela arte revolucionária, influenciado que estava pelo marxismo. Muitos dos seguidores do movimento não admitiam o engajamento da arte na política, criando assim uma divisão entre os surrealistas comunistas e os não comunistas.

"A Venus Dormindo"
Paul Delvaux, 1923.

Movimento fundado em Zurique, na Suiça, por um grupo de artistas e intelectuais, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). Suas inquietações eram derivadas da desconfiança na ciência, na religião e na moral. O espetáculo hediondo da guerra e o irracionalismo tomaram conta da Europa e de todos os valores tradicionais que sustentavam essa civilização. Vale lembrar que nesse momento, o pensamento do psicanalista Sigmund Freud trazia inovações ao revelar que muitos dos atos humanos não estão ligados ao encadeamento lógico. A ausência de controle exercido pela razão e o "automatismo psíquico puro" indicavam os novos rumos da arte.

Principais artistas: Salvador Dalí, Ives Tanguy, Max Ernst, Juan Miró, René Magritte, Paul Delvaux, André Masson.


Características do Surrealismo:
· valoriza a intervenção fantasiosa na realidade; 
· ressalta o automatismo contra o domínio da consciência; 
· as formas da realidade são completamente abandonadas.
· Explorar o inconsciente, o sonho, a loucura; aproximar-se de tudo que fosse antagônico à lógica e estivesse fora do controle da consciência.


VANGUARDAS RUSSAS

O ambiente artístico da Rússia nos anos anteriores à Revolução de 1917 era de uma efervescência impressionante. A cada dia surgia um novo movimento de vanguarda, um novo manifesto era lido nos bares de Moscou, freqüentados por jovens artistas. Constituíram a Vanguarda Russa as seguintes vertentes artísticas: Raionismo,SuprematismoConstrutivismo e Não-Objetivismo.

"Composição Raionista Dominada por vermelho"
Mikhail Larionov, 1912-13

RAIONISMO - O Raionismo de Mikhail Larionov e sua esposa Natalia Goncharova consistia em formas de linhas convergentes ou divergentes a um ponto, partindo da natureza e com supremacia da cor. Mikhail Larionov lançou o manifesto Raionista em 1923.


"Quadrado Preto Sobre Fundo Branco"
Kasimir Malevitch, 1915


SUPREMATISMO - O Suprematismo, da cor pura e da forma, foi criado por Kasimir Malevitch e a sua geometria tinha a linha como a forma suprema, revelando a ascendência do homem sobre o caos da natureza, e o quadrado - inexistente na natureza - era o elemento suprematista básico. Kasimir Malevitch em 1915 criou o "Quadrado preto sobre fundo branco", no qual o quadrado estava cheio de ausência de objetos, e em 1918 o "Quadrado "branco sobre o branco" - a ausência da ausência -, no qual o quadrado branco seria a vontade humana fundindo o homem com o infinito.


"Monumento à Terceira Internacional"
Vladimir Tatlin, 1919

CONSTRUTIVISMO - OConstrutivismo surgiu na década de 1920 quando a arte moderna era anarquia. A anarquia era o comunismo e oConstrutivismo era de fato vermelho. O Construtivismo era a socialização da arte, a arte com fins utilitários - artes práticas. A ordem era a arquitetura simples e a produção de objetos / produtos utilitários. O artista era o designer. O processo criativo consistia-se no tectônico, ou seja, na arte de construir. Fusão de conteúdo e forma. Fatura (transformação dos materiais). Os irmãos Antoine Pevsnere Naum Gabo (manifesto de 1920) foram os principais idealizadores. A torre de Vladimir Tatlin ficou só na maquete - Monumento a III Internacional. El Lissitzky e Alexander Rodchenko também participaram ativamente do movimento. A obra mais importante construída foi o "Mausoléu de Lênin" em Moscou. A maioria das obras projetadas ficou somente no papel, em virtude de sua complexidade e do atraso tecnológico da época. O Construtivismo rejeitava o conceito de gênio: intuição, inspiração e auto-expressão. Rejeitava a arte pela arte.
"Composição Vermelho Dominante"
Alexander Rodchenko, 1918.
NÃO-OBJETIVISMO - O Não-Objetivismo de AlexanderRodchenko, movimento que ocupara uma posição intermediária entre o Construtivismo e o Suprematismo, participando moderadamente do entusiasmo do primeiro pela mecânica e da preocupação do segundo com a busca da sensibilidade pura. Essas experiências foram interrompidas subitamente no começo dos anos 1920, quando a política artística do estado soviético sofre brusca mudança, com o fechamento dos ateliês de vanguarda.


 



(Extraído de trabalho do autor apresentado na UFES - Centro de Artes
Vitória-ES - Verão 2002)