terça-feira, 19 de agosto de 2014

Máscaras africanas

As máscaras estão presentes durante todo percurso da história da humanidade. Elas foram várias vezes usadas pelas pessoas de forma cultural, cerimonial, religiosa, espiritual ou divina; como um meio de transmissão de histórias, crenças e culturas diversas.

Encontra-se gravada na caverna labirinto de Trois Frères, em Ariège, nos Pirineus, a primeira máscara que se tem registro. Segundo arqueólogos, datada do período paleolítico superior (30.000 a 10.000 a.C.), estaria voltada para um ritual de cura e caça associado à fertilidade.

Confira o uso das máscaras por diversos povos: na África em rituais religiosos, ritos iniciáticos e funerários; na Ásia, além dos rituais de cunho religioso, em celebrações festivas e cerimônias de casamentos; no Antigo Egito, em sacrifícios cerimoniais, na pós-vida: os egípcios adornavam as múmias com máscaras revestidas de pedras preciosas para que o morto fosse reconhecido no além; na antiga Grécia e na Roma, por volta do século V a.C., em festivais e teatros, sendo que a máscara da tragédia fazia referências à natureza humana e o controle do destino dos homens pelos deuses, e a máscara da comédia fazia uma alusão crítica à política e à sociedade; no Japão do século XIV, surge o teatro Nô, sendo bastante utilizadas como vestuário para esconder as características individuais dos atores; no Brasil, as tribos primitivas representavam elementos da natureza, como figuras de animais, insetos e aves.

Ainda hoje, no Brasil, elas estão ativas nos festejos carnavalescos e nas festas folclóricas e rurais, participando de forma efetiva no comportamento emocional e social das pessoas, ensinando princípios básicos da moral comunitária, perfazendo um elo entre o passado e o presente, entre o tradicional e o moderno.

Nas culturas indígenas, as máscaras representam forças espirituais que se buscam nos rituais místicos ou religiosos traduzindo os pensamentos participativos e os objetivos coletivos de toda a comunidade.

Segundo Schultze, as principais funções de uma máscara são:
  • disfarce;
  • símbolo de identificação;
  • esconder revelando;
  • transfiguração;
  • representação de espíritos da natureza, deuses, antepassados, seres sobrenaturais ou rosto de animais;
  • participação em rituais;
  • interação com dança ou movimento;
  • fundamental nas religiões animistas e
  • mero adereço.
A máscara social se faz necessária enquanto artifício de adaptação para o convívio social. Representamos diversos papéis perante a sociedade que, de certa forma, podem ser considerados como máscaras comportamentais, como por exemplo: o bom filho, o funcionário eficiente, o namorado fiel, o jovem responsável, o aluno exemplar, o brasileiro lutador etc.

Zuleica Dantas (Apud Klein), antropóloga e pesquisadora, afirma que “o ato se mascarar é uma forma de se ir de encontro à moralidade estabelecida pela sociedade sem comprometimento do reconhecimento”.

Para Canhadas, as máscaras estão conectadas à nossa alma fazendo parte da nossa personalidade, porém, segundo o autor, não somos as nossas próprias máscaras, pois, “se não houver nada além da máscara, seremos parciais, incompletos, pedaços de Espírito e não um Espírito uno”.

Os super-heróis das histórias em quadrinhos e/ou do cinema, utilizam uma máscara para esconder uma identidade secreta. Sem a máscara, a segurança de seus amigos, familiares ou a sua própria poderia estar comprometida.

Nas comunidades virtuais da Internet, o uso de nicknames nos chats e salas de bate-papo também pode ser considerado como uma forma de se mascarar, ora escondendo ora revelando a personalidade do internauta.

Vimos que as máscaras podem ser objetos de estudo e relacionam-se com as várias categorias do conhecimento humano, assim como a Arte que se relaciona com a História, a Antropologia, a Sociologia, a Psicologia e a Filosofia. Dando-nos uma contribuição para uma aproximação, através dos seus estudos e da sua história, entender o que seja a própria Arte.

A seguir, cito algumas obras e alguns artistas das Artes Visuais que trabalharam ou foram influenciados pelas máscaras:

Máscaras da Bahia - Aristides Alves

Máscaras da Bahia é uma série de fotografias de máscaras feitas ao longo de quatro anos pelo fotógrafo, e também jornalista, Aristides Alves, em festas populares e religiosas de Salvador e do interior baiano. Ele desenvolveu intensa atividade cultural no campo da fotografia com um caráter antropológico, buscando detectar e valorizar as tradições culturais e religiosas da Bahia.
 

Alves, Aristides. Zamiasunga/Máscaras da Bahia, 1997, matriz-positivo, coleção do artista.

Máscaras Sensoriais - Lygia Clark

As Máscaras Sensoriais de Lygia Clark eram confeccionadas utilizando-se deferentes materiais com o objetivo de levar sensações diversas a quem as vestisse. Orifícios no lugar dos olhos continham diversos materiais costurados. Próximas ao nariz, colocavam-se ervas com cheiros característicos e, junto ao ouvido, objetos que produziam sons. Dessa forma, os sentidos como visão, olfato e audição, eram aguçados. O intuito era realizar uma experiência solitária na busca pelo autoconhecimento.
  
Clark, Lygia. Máscaras Sensoriais, 1967. Artistas com as máscaras.
Clark, Lygia. Máscaras Sensoriais, 1967.

Máscaras Sociais - James Ensor

James Ensor foi um pintor conhecido por suas críticas sociais por meio de seus desenhos e pinturas de máscaras e multidões. Para ele era “um ponto de vista filosófico a hipocrisia dos rostos, as suas tentativas de esconder seus interesses, seu engano”. Com o uso da luminosidade e de cores fortes, Ensor pintou telas que chocaram as pessoas da sua época, com uma mescla de política, sociedade e, em outras obras, religião.





Ensor, James. A intriga, 1890, óleo sobre tela.


Máscaras Africanas - Pablo Picasso

No início do século XX, Pablo Picasso conheceu a arte africana. Por influência dessa arte, o pintor, escultor e desenhista, se torna uns dos percussores do movimento artístico Cubismo, abandonando a ideia de que a arte é a imitação da natureza. Dessa forma, afasta noções como perspectivas e modelagem. Um de seus quadros mais famosos, desse movimento artístico, é Les Demoiselles d'Avignon. Claramente, dá para se notar a influência das máscaras africanas nessa obra.
  Picasso, Pablo. Les demoiselles d'Avignon, 1907,
pintura, óleo sobre tela (detalhe) e Máscara africana.




Picasso, Pablo. Les demoiselles d'Avignon, 1907, pintura, óleo sobre tela 1907. 

Disse Picasso sobre as máscaras africanas: "Senti que eram muito importantes ... As máscaras não eram apenas peças esculpidas ... Eram magia".

Assim, pudemos constatar o alcance das influências atribuídas às máscaras na pintura, na escultura, na fotografia e nos objetos artísticos. E essas relações estabelecidas entre os autores e suas obras podem ser de caráter individual ou coletivo, com identificação ou distanciamento, de forma crítica ou benevolente. 



Confecção das Máscaras


Pensando na acessibilidade em relação aos materiais e a facilidade técnica para execução do trabalho, utilizaremos o balão como molde e o jornal como material de construção inicial. 

A utilização do balão deve-se a sua forma oval semelhante a uma cabeça humana e o papel jornal à sua flexibilidade e aderência ao molde.

Vídeo:
Título: Vídeo da Oficina de Máscaras
Técnica: papietagem com balão.
Duração: 00:07:09

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=317tX3WqJxA

Materiais:


Para a confecção da máscara utilizaremos:

Jornais, papel sufite A4, lápis, lápis de cor, um balão, estilete, tesoura, cola, cola quente, tintas de diversas cores, pincéis variados, recipientes e potes para misturar a tinta ou a cola e pequenos objetos, como por exemplo: cordões, botões, sementes, entre outros.

Recado às crianças, antes de começar: chame um adulto para ajudar com o uso do estilete e da cola quente.



Projeto:


Numa folha de sufite, faça o desenho da máscara que deseja confeccionar.
Destaque as áreas com tons escuros e claros indicando os locais que terão volume.

 


Depois, faça um estudo das cores:


Papietagem:

Momento de iniciar a confecção da máscara na sua parte estrutural.

Encha o balão de ar e amarre bem firme. Procure utilizar um balão de boa qualidade.
Rasgue o jornal em pequenos pedaços, sem o uso de tesoura para a melhor junção das fibras.
Despeje a cola em um pote vazio e misture com os pedaços de jornal até obter uma substância pastosa.
Com o auxílio de um pincel macio, esparrame de leve e com cuidado a cola sobre a superfície do balão.
Fixe um pedaço de jornal, esparramando bem a cola.
Faça isso sucessivamente até preencher uma camada de jornal cobrindo todo o balão.
Pedaços de jornal maiores agilizam o trabalho, porém, os menores darão um acabamento mais liso à superfície.



Repita o procedimento até completar de 4 a 6 camadas no mínimo.
Após terminar, aguarde o tempo para secagem que pode variar de horas a dias dependendo do local e da temperatura ambiente.


Recorte:
Depois de seco, utilize um lápis (ou caneta) para riscar o balão ao meio.
Com a tesoura (ou estilete) corte o balão ao meio para obter, obviamente, duas metades.




Desenhe os traços principais da máscara que fez no projeto inicial.




Com a tesoura (ou estilete), recorte as áreas que julgar necessário, como por exemplo, os orifícios dos olhos, da boca e do nariz. Você também poderá recortar a parte inferior do balão para ter uma máscara mais a redonda.




Abaixo, o resultado do recorte para essa máscara. Foram recortadas as áreas dos olhos e a parte inferior.
Nessa etapa, pequenos cortes indesejáveis podem ser corrigidos a tempo com um pedaço de jornal e cola.


Modelagem:
Pique o jornal em pedaços bem pequenos e misture junto com a cola para criarmos uma massa para a modelagem.
Quanto menor for picado o jornal, mais lisa será a superfície da máscara.
Pode ser adicionada água, tanto na etapa da modelagem quanto da papietagem, obtendo um maior rendimento do uso da cola. Porém, o tempo de secagem será maior.




Faça os volumes na face da máscara de acordo com o estudo realizado no projeto do desenho.




Resultado final da modelagem depois do tempo de secagem:


Pintura:
Inicialmente, cubra toda a superfície da máscara com uma tinta branca para criarmos uma base para a pintura. Se achar melhor, essa base também poderá ser feita com massa corrida, permitindo que depois de seca possa ser lixada, obtendo-se dessa forma, uma superfície lisa.
Na pintura, podemos ter diversos momentos para secagem da tinta.




Seguindo o estudo das cores que realizamos anteriormente, inicie o processo de pintura procurando acentuar os tons claros e escuros.


  
Caracterização:
Faça estudos dos pequenos objetos colocando-os sobre a própria máscara ao invés de utilizar o projeto no papel.
Um exercício interessante nessa etapa é você explorar bem o uso de materiais que estejam ligados ao seu cotidiano ou à sua personalidade.






Utilize a cola quente para fixar esses objetos. Tenha o cuidado para não danificar a máscara nesse procedimento.
Na foto abaixo, podemos observar que algumas mudanças poderão ocorrer desde a etapa do desenho do projeto inicial até a conclusão da confecção da máscara.


 Resultado final da confecção da máscara:


Trabalhos de Alunos

Abaixo, alguns dos trabalhos realizados pelos alunos que frequentaram as oficinas presenciais realizadas na cidade de Uberlândia - MG:

C. R.

 T. A.

 M. F.

 A. N.

 N. Y.

 L. B.

 G. S.

 A. F.

 A. D.

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