A primeira imagem que se tem notícia da cidade de Curitiba é uma pintura do francês Jean Baptiste Debret, datada de 1827. Ele produziu diversas obras que têm como tema as paisagens paranaenses na viagem que fez ao Brasil com a Missão Artística Francesa, entre 1816 e 1831. Foi só na segunda metade no século XIX que a vida social do Paraná se organizou e as artes passaram a se desenvolver no Estado. Nessa época, surgiu em Paranaguá a primeira pintora paranaense, Iria Correa, que teve destaque com a exposição de seus trabalhos em 1866. Em Curitiba, o português Mariano de Lima e o norueguês Alfredo Andersen, considerado o “pai” da pintura paranaense, introduziam as primeiras escolas de arte do Paraná. Nesse período, apareceram os primeiros registros históricos e culturais do Estado através das artes plásticas.
No Museu Paranaense, o terceiro do Brasil, inaugurado em 1876, pode-se acompanhar a história do Estado por meio de pinturas e objetos antigos, além do trabalho de pintores paranaenses. Obras de artistas que marcaram a história da pintura paranaense como Guido Viaro, Miguel Bakun e Alfredo Andersen podem ser vistas no MON – Museu Oscar Niemeyer, um dos maiores da América Latina. O acervo do MON conta também com obras de pintores de renome mundial como Tarsila do Amaral e Cândido Portinari.
O Paraná possui ainda muitos outros espaços destinados à exposição das artes visuais. Pode-se citar o CAM – Casa Andrade Muricy, o Solar do Rosário, a Casa de Artes Helena Kolody, o Centro Juvenil de Artes Plásticas e o Centro Cultural Solar do Barão. O Memorial de Curitiba, a Escola de Música e Belas Artes do Paraná e a Secretaria de Cultura do Paraná também reservam espaços para a exposição de obras.
Entre os séculos XVI e XIX, os viajantes que passaram pela região que hoje se chama Paraná registraram suas impressões em forma de pintura, porque, nesse período, ainda não existia a fotografia por aqui.
O primeiro pintor a fixar morada no Paraná foi Guilherme Frederico Virmond. Chegando aqui em 1833, o alemão Virmond – que era poliglota, estudioso de zoologia e música e desenhista de charges – foi o primeiro a retratar a “gente paranaense”. São dele, também, as mais antigas charges que por aqui apareceram.
A primeira escola de arte do Paraná, a Escola de Artes e Indústrias, foi criada pelo artista português Mariano de Lima em 1886. Apesar de não ter sobrevivido por muito tempo, esta escola foi muito importante para o desenvolvimento da Arte Paranaense, pois revelou artistas como Zaco Paraná e João Turin, que são reconhecidos até hoje.
O pintor Alfredo Andersen teve grande importância na formação de diversos artistas que freqüentavam seu atelier. O próprio Alfredo Andersen foi considerado, posteriormente, “o pai da pintura paranaense”, tanto por sua obra artística quanto por suas propostas educativas.
Zaco Paraná
Jan Zack (1884 – 1961) era polonês e ainda criança veio residir no Brasil.
Em gratidão à terra que o acolheu, naturalizou-se brasileiro adotando o nome de João Zaco Paraná. De origem humilde, vendia suas próprias esculturas na estação de Restinga Seca, que se localizava no município de Porto Amazonas – PR (foi desativada em 1914). O banqueiro Sr. Solheid ficou maravilhado com suas obras e convenceu seus pais a deixarem o menino Zac passar a residir em Curitiba, para que completasse seus estudos. Estudou então na escola Mariano de Lima. Depois, com bolsa de estudos cedida pelo Governo do Estado, aperfeiçoou-se na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro e posteriormente em Bruxelas, e na Itália, na Escola Superior de Belas Artes.
João Turin
João Turin (1878 – 1949) foi um menino de origens humildes. Sua família, de imigrantes italianos, desembarcou em Paranaguá em 1877.
Um ano depois, nasceu João Turin. Mais tarde, a família transferiu-se para o “friozinho” de Curitiba, onde desde cedo, João Turin exerceu vários ofícios: ferreiro, marceneiro, entalhador, escultor. Certa vez, disse: “a miséria, a fome e o frio me puseram em má situação que, se não fora o amparo de Zaco Paraná (colega na Escola de Artes e Indústrias), (...) auxiliando-me e comprando-me um sobretudo, certamente eu te-ria morrido de fome” [pois comprando um sobretudo, não lhe sobraria dinheiro para comprar alimentos].
Apesar de sua vida um tanto quanto difícil, freqüentou em Curitiba a Escola de Belas Artes e Indústrias do Paraná e o Seminário Episcopal. Mais tarde, foi para a Europa onde executou as obras: Exílio, Pietá (1912) e Tiradentes (1922), recebendo boas referências da imprensa francesa.
Chegou a trabalhar em um jornal (Le Martin) e como voluntário no Hospital 50 da Cruz Vermelha, no período da 1ª Guerra Mundial.
Lange De Morretes
Lange de Morretes (1892 – 1954) além de artista foi também cientista e procurou a perfeição em ambas as profissões. Tornou-se internacionalmente conhecido em Malacologia (ramo da zoologia que estuda os moluscos).
No ramo das artes, tinha preferência pelo gênero paisagístico no qual fazia as representações com características ao mesmo tempo realistas e impressionistas. Além disso, manteve, até 1935, uma escola de desenho e pintura, onde tiveram início o escultor Erbo Stenzel, os pintores Arthur Nisio, Kurt Beiger, Augusto Comte, Waldemar Rosa e Oswald Lopes (pintor e escultor), entre outros. Mais tarde, por divergências políticas com Manoel Ribas, transfere-se para São Paulo, retornando ao Paraná somente em 1946, após a morte do mesmo, quando, com a ajuda de Bento Munhoz da Rocha, consegue colocação no Museu Paranaense e assim dá prosseguimento às suas pesquisas.
Em suas últimas obras transparece, porém, um grande pessimismo, que revela o estado depressivo que se encontrava o artista no final de sua vida.
É curiosa uma história do artista, contada por Constantino Viaro, que certo dia, teria surpreendido os amigos afirmando: “Vou morrer no dia tal e gostaria de ser enterrado em Morretes, em pé, olhando para o Marumbi”. Ninguém levou o caso a sério, mas ele, para surpresa de todos, inexplicavelmente, morreu no dia marcado. As pessoas que o viram prever a morte chegaram a pensar em suicídio, mas depois essa hipótese foi descartada, ficando somente o mistério.
Falecido, então, a 20 de janeiro de 1954, a família satisfez seu último desejo, enterrando-o em pé, dentro de duas manilhas de cimento, com o rosto voltado para o Pico do Marumbi.
Guido Viaro: Pintura E A Preocupação Social
Guido Viaro (1897 – 1971) nasceu na Itália, mas escolheu a cidade de Curitiba no Paraná para viver, por este motivo é tido como um artista paranaense. Além de pintor, foi também educador, lecionando arte para crianças e mais tarde na Escola De Música e Belas Artes do Paraná – EMBAP, o que resultou na criação do Centro Juvenil de Artes Plásticas, em Curitiba. Devido à sua paixão pela arte, Guido sentia muita vontade de viajar, já que assim teria a oportunidade de conhecer a arte produzida por várias culturas. Certa vez, quando saiu de casa a pedido de sua mãe, para comprar carne, encontrou um piloto de corridas que o convidou para ir junto com ele para Paris: “e lá se foi com o novo amigo para a terra que tanto desejava conhecer. Ficou três meses em Paris. Passou fome. Fez trabalhos alternativos, mas conheceu o grande e importante movimento artístico francês da época. Três meses depois, voltou para casa com o pacote de carne que a mãe tinha encomendado”.
Guido Viaro chegou ao Paraná de passagem, para observar e retratar as belezas locais. Mas, em Curitiba, quando viu passar pela rua XV o grande amor de sua vida – Yolanda – mudou de ideia e ficou por aqui até o fim de sua vida.Em sua primeira exposição em Curitiba, era evidente a influência da Arte Moderna, nova para os conceitos da época que só admitiam o figurativismo acadêmico. Desta forma sua exposição não teve boa repercussão. Revoltado com seu insucesso, Guido fez uma nova exposição na qual mostrou quadros figurativos de pinheiros e aquarelas bem suaves, dentro do gosto da época. Esta exposição foi um sucesso total, tanto que todos os trabalhos foram vendidos. Indignado, publicou um artigo no jornal O Dia, “criticando a sua própria pintura, dizendo que aquilo não era arte, arte sim, eram os trabalhos que mostrara anteriormente. Devido à sua própria crítica, alguns vieram devolver os quadros comprados”.
Este “ato de rebeldia” foi importantíssimo para o rompimento da Arte Paranaense com o passado e aceitação de uma linguagem artística mais contemporânea. Nesta direção, criou também a primeira Escolinha de Arte no Brasil, pois julgava que as crianças absorveriam melhor sua intenção artística. “A escolinha não tinha por objetivo fazer artistas, mas, sim, criar o gosto pela Arte mediante o conhecimento mais amplo de todo o processo criativo”.
Em 1970, quando morreu sua amada esposa Yolanda, Guido Viaro definhou, não por doença, mas por tristeza, e “meses depois, veio a falecer, deixando a clara convicção de que, neste mundo e neste século, ainda existe gente sensível que morre de amor”.
Alfredo Andersen: O Mais Paranaense Entre Os Noruegueses
Alfredo Andersen nasceu em Kristiansand na Noruega, em 03 de novembro de 1860. Ninguém sabe ao certo como se deu sua formação artística, o que se sabe é que em 1879, foi transferido para a Dinamarca e, em 1891, iniciou uma longa volta ao mundo. Nesta viagem, possivelmente tenha estado no México e posteriormente no Brasil. Depois, retornando ao Velho Mundo, conheceu quase todos os países europeus, indo visitar ainda a África e a Índia.
Ao retornar à América, com destino em Buenos Aires, houve um acidente de navio e este acabou por descer em Paranaguá.
Alfredo Andersen apaixonou-se de tal forma pelo Paraná, que aqui se casou com dona Anna Oliveira, indo viver em Curitiba em 1903, e, quando em 1927 foi convidado pelo governo norueguês para retornar à sua terra e lecionar na Escola de Belas Artes de Oslo, recusou o convite, pois já se sentia um brasileiro.
Aqui montou cursos de artes nos quais formou diversas gerações de importantes artistas paranaenses, destacando-se entre eles Lange de Morretes.
Alfredo Andersen veio a falecer dia 08 de agosto de 1935, vítima de uma broncopneumonia, mas sua obra pode até hoje ser apreciada no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba.
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