domingo, 23 de fevereiro de 2014

Analisar imagens de Goya


  Goya, Autorretrato de Goya, 1773.
Óleo sobre tela, 58 cm x 44 cm
Coleção privada

Francisco José de Goya y Lucientes, conhecido como Goya, foi pintor e artista gráfico. Nasceu em Fuendetodos, Saragoça, Espanha, em 30 de março de 1746, e morreu em Bordéus, França, em 16 de abril de 1828.

   Viajou pela Itália em 1771 pintando quadros para as igrejas. Fixou-se em Madri; em 1775 começou a pintar tapetes e em 1776 foi encarregado de pintar cartões para as tapeçarias reais. Em 1780 Goya recebeu a incumbência de pintar as quatro conchas da Catedral Basílica do Pilar. Em 1786 foi nomeado pintor da corte por Carlos III; nomeação confirmada por Carlos IV. Em 1799, era o primeiro pintor da corte, mas se retirou em 1808, quando o trono foi ocupado por José Bonaparte. A partir daí seu trabalho tornou-se incansável.

Em 1800, no auge do prestígio, pintou seus quadros mais discutidos, Maja desnuda (Mulher despida), Maja vestida (Mulher vestida)|e o famoso quadro A família de Carlos IV, que é um exemplo de como introduzia traços grotescos nas figuras. Em todos, o realismo ora explode em erotismo, ora se detém na análise desapiedada dos modelos.


Maja desnuda, Francisco de Goya, 1797- 1800  Tinta a óleo, 97 cm x 1,90 cm Museu do Prado


Maja vestida, Francisco de Goya, 1790-1800 Óleo sobre tinta, 97 cm x 190 cm Museu do Prado


A família da Carlos IV, Francisco de Goya, 1800 Óleo sobre tela, 280 cm x 336 cm Museu do Prado, Madri, Espanha

Em 1814, estava no poder Fernando VII, mas com a restauração do absolutismo, Goya se isolou na Quinta del Sordo, e, em 1824, mudou-se para Bordéus, na França. Goya pintou também os episódios da invasão francesa, como o das Execuções do três de maio, que representa uma cena de fuzilamento de composição insólita. Sabá das bruxas e Saturno devorando o seu filho são o ápice da carreira e manifestam uma visão sombria da realidade.


Sabá das bruxas, Francisco de Goya, 1797-1798 Óleo sobre tela a partir de um afresco, 43 cm x 30 cm
Museu Lázaro Galdiano. Madri


Saturno devorando o seu filho, Francisco de Goya, 1819-1823 Tinta a óleo,1,43 cm x 81 cm
Museu do Prado, pintura histórica

Goya foi tão importante na pintura quanto na gravura, onde pôde manifestar de forma extremamente expressiva o espírito do humor espanhol, que tende para a deformação e até para o trágico. Predominam as sátiras sociais, cheias de sarcasmo, os motivos eróticos e a feitiçaria, como temas opostos à razão, pois Goya era um iluminista e fustigava as crendices do tempo. O charlatanismo, a avareza e a vaidade são seus alvos. Emblemática é a obra que traz a inscrição “O sono da razão produz monstros”.

A sátira está, entretanto, ausente na coleção mais célebre de Goya, Os desastres da guerra (1810-1814), na qual o artista rememora as atrocidades das invasões napoleônicas na Espanha. É também a obra mais “heróica”, que exalta os patrícios – sobretudo a mulher – e mostra a infâmia dos invasores: uma sucessão de mutilações, fuzilamentos, saques, tentativas de estupro e outros males de guerra.


 Goya, Dois de maio, 1814. Óleo sobre tela, 266 cm x 345 cm
  Museu do Prado, Madri

Dentre sua obras, destacamos: Guitarrista cego; Carlos III na caça; Cenas de São Francisco de Borja; Dr. Peral; Los caprichos; Mulher vestida e a Mulher despida; Traição de Cristo; Dois de maio e Execuções do três de maio; Desastres de guerra; O sabá das bruxas; Saturno devorando o seu filho; Visão fantástica; O guarda-sol, entre outras.


Goya, La vendímia, 1786-87. Óleo sobre tela, 272 cm x 188 cm. Rococó, Museu do Prado, Madri.


Goya, Desastres de guerra (Prancha 3: o mesmo). Série de 82 gravuras feitas entre 1810 e 1820.


 Goya, A duquesa de Alba, 1795. Óleo sobre tela, 194 cm x 130 cm
Coleção particular da família Alba, Madri


Goya, O duque de Wellington (general Arthur Wellesley), 1812-1814.
Óleo sobre madeira, 64,3 cm x 52,4 cm, National Gallery, Londres

Agora que você já conheceu algumas obras de Goya e um pouco de sua biografia, vamos analisar a imagem de O fuzilamento juntos. Preste atenção, pois você fará a atividade seguinte.

Análise da imagem – o fuzilamento

O sentimento de comoção atinge uma intensidade excepcional como os efeitos de luz sobre os rostos ocultos e os dedos contraídos. A técnica aplicada, de certa conotação expressionista, situa-se na linha progressiva e livre do artista Goya. O romântico funde-se com a comoção nesta tela monumental.


Goya, O fuzilamento do três de maio, 1814. Óleo sobre tela, 266 cm x 345 cm. Museu do Prado, Madri

A temática


Esse quadro nos lembra a cena dos fuzilamentos de madrilenhos no mês de maio de 1808, ano em que se inicia o conflito bélico na França napoleônica. O artista solicitou que pudesse, em 1814, “perpetuar com o pincel as proezas ou as cenas mais notáveis e mais heróicas da gloriosa insurreição contra o tirano da Europa”. As razões pelas quais Goya solicita poder, oficialmente, realizar esses trabalhos são sua precária situação econômica e, sobretudo, o seu medo diante das possíveis represálias que poderia sofrer por causa da sua afinidade com os afrancesados liberais.

Goya pintou essa tela que faz par com outra, à qual está intimamente relacionada: o Dois de maio. O tema da Guerra da Independência e suas conseqüências impressionou profundamente o artista, cuja obra se converte em testemunha daquee acontecimento histórico tão traumático.

A contemplação desse quadro torna inevitável a lembrança dos Desastres de guerra. Essas estampas recolhem temas análogos: a injustiça, a crueldade e a dor do povo suplantam o heroísmo.

Análise técnica e estilística

O realismo está subjacente nessa crônica de um acontecimento histórico. O drama e a paixão dão livre curso a uma pincelada violenta que sobrecarrega com maior expressividade a própria agressividade romântica do tema.

A luz e a cor contribuem, nesse sentido, acentuando os contrastes entre o bloco impessoal e frio do pelotão e os gestos representativos da piedade, do terror, da resignação e do desespero, estados de ânimo encarnados nas figuras das vítimas. Um lampião é a fonte de luz. O pintor dá protagonismo aos patriotas diante do grupo homicida, permitindo-nos ver os gestos desesperados, mas não heróicos, de quem vai morrer. No fundo, uma paisagem noturna de Madri. No plano intermediário, uma colina que serve de apoio e contraste com o branco da camisa e o vermelho do sangue, indicadores cromáticos da cena principal. Os personagens secundários estão simplesmente esboçados, ou imersos numa sombra cinzenta. Cada gesto define um sentimento, ainda que sobre todos eles se destaque a impotência representada pelo personagem principal: um mártir de camida branca com os braços levantados.


Goya, Desastres de guerra (Prancha 27: caridade). Série de 82 gravuras feitas entre 1810-1820.

Interpretação

A principal controvérsia que suscitou essa obra entre os historiadores de arte consiste no seu caráter realista. Aqui se combinaria o realismo, que supõe a narração de um fato histórico, com o romantismo de sua feitura. O colorido e a pincelada se põem a serviço do pintor e do espectador para captar e para fazer com que o quadro transceda a uma situação trágica e solene, com uma forte carga dramática e emotiva. Goya plasma a tela sentimentos tais como a injustiça diante de uma morte inevitável e o desespero.

As opiniões são muito díspares. O que ninguém discute é o caráter emblemático desse quadro; o mais famoso de toda a carreira pictórica do artista saragonês.


                 







Um comentário:

Kaline Lima~~yuppye disse...

simplesmente adoro as obras de Goya!!!! <3 Um dos melhores pintores realistas