domingo, 23 de fevereiro de 2014

História da Arte – pintura acadêmica no Brasil



No século XIX, o Brasil e a Europa possuem notória diferença artística.

Em 1815, estamos, na política, vivenciando o vice-reino de Portugal, Brasil e Algarves, que duraria 7 anos, sob comando político de Dom João VI, terminando com a Proclamação da Independência em 1822.

O conde de Barca (a pedido de Dom João VI) chama para o Brasil, em visita, o marquês de Marialva (na época embaixador de Portugal na corte de Luís XVIII), que tinha contato com os artistas franceses.

Em 1816, temos a vinda da missão artística francesa que irá romper com a arte colonial.

O naturalista alemão Alexander von Humboldt indica ao marquês de Marialva o nome de Joachin Lebreton para comandar uma missão e criar a Academia e Escola Real, que se tornaria, após a independência do Brasil, a Academia Imperial de Belas Artes. Lebreton morreu em 1818, não viu a Academia funcionar, mas juntou talentos como: Nicolas Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret, o arquiteto Grandjean de Montigny, entre outros.

A contribuição francesa permanece até o final do século XIX.

A despeito dos críticos e mesmo de seus opositores, a Academia Imperial de Belas Artes, nos poucos mais de 60 anos de sua existência, contribuiu com a difusão da cultura artística no Brasil e colaborou ensinando pintores, escultores, arquitetos e gravadores. Professores como Félix-Emile Taunay, Manuel de Araújo Porto-Alegre, Zeferino da Costa, Victor Meirelles de Lima, Agostinho José da Mota, Georg Grimm, Pedro Américo, Pedro Weingärtner, José Correia de Lima e numerosos outros lecionaram na Academia.

Com a Proclamação da República, a 15 de novembro de 1889, a Academia Imperial de Belas Artes cessava de existir – muito embora o último contemplado com seu prêmio de viagem (em 1888), Oscar Pereira da Silva, só viesse a seguir para a Europa já na vigência do novo regime republicano. Com modificações e atualizada, voltaria a velha academia a funcionar em 1890, com o novo nome de Escola Nacional de Belas Artes.

Dentre os pintores acadêmicos, vamos destacar:

Victor Meirelles de Lima nasceu em Nossa Senhora do Desterro, atual Florianópolis, em 18 de agosto de 1832 – e faleceu no Rio de Janeiro, em 22 de fevereiro de 1903. Foi um pintor brasileiro da época acadêmica. Filho do casal de imigrantes portugueses Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição, mudou-se para o Rio de Janeiro em 1847, onde formou-se na Academia Imperial de Belas Artes. Pintou várias obras históricas entre 1852 e 1900, tendo sido um artista que experimentou as mais diferentes alternâncias da existência humana: do reconhecimento ao esquecimento.

Pintor, ligado ao neoclassicismo brasileiro, ocorrido na segunda metade do século XIX, Victor Meirelles ganhou destaque a partir da década de 1870, ao lado de Pedro Américo e Almeida Júnior.

Victor Meirelles é o autor do quadro Primeira missa no Brasil, obra célebre na arte brasileira. Ao trabalhar Primeira missa no Brasil ele promove o papel unificado da política portuguesa com a religião.

Vemos a cerimônia a céu aberto, centralizando a composição em torno do altar onde a natureza é a moldura, capaz de acomodar portugueses e nativos. Quadro reproduzido em livros didáticos com freqüência.

Victor Meirelles, Primeira missa no Brasil, 1860. Óleo sobre tela, 268 cm x 356 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Pedro Américo de Figueiredo e Mello nasceu em Areia, na Paraíba, em 1843, e faleceu em Florença, Itália, em 1905.

Ele era a favor da abolição dos escravos e fez um quadro sobre esse tema.

Quando tinha apenas 9 anos de idade, acompanhou o naturalista francês Louis Jacques Brunet em uma missão científica pelo Norte do Brasil, como desenhista.

Estudou no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro (1854), e na Academia Imperial de Belas Artes. Completou seus estudos em Paris e Bruxelas. Um dos quadros mais famosos de Pedro Américo é Batalha do Avahy, encomendado pelo governo brasileiro.

Graças a esse trabalho, o governo da Itália o incluiu entre os célebres pintores da Galleria degli Uffizi (Florença).
Sua pintura abrange temas bíblicos e históricos. Realizou várias obras, sendo a mais famosa delas o quadro Independência ou Morte, de 1888, atualmente localizada no Museu Paulista (USP), localizado no bairro do Ipiranga, em São Paulo.

Pedro Américo de Figueiredo e Mello, Batalha do Avahy, 1872-1877.
Óleo sobre tela, 600 cm x 1100 cm, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

Em 1888, Pedro Américo enviou uma mensagem à princesa Isabel, cumprimentando-a pela libertação dos escravos. Logo em seguida (1889), pintou o quadro A libertação dos escravos.

Pedro Américo faz a opção pela atualidade mostrando a Batalha do Avahy. Nesse quadro vemos a força pela luta e a multiplicação dos combates, despertando o civismo. O quadro trouxe um sucesso de público, levando 70 mil visitantes à exposição.

Pedro Américo pertenceu ao academicismo, pois sua produção manteve-se fiel à Academia de Belas Artes.
Recebeu as honrarias de Cavaleiro da Coroa da Alemanha e de Grão-Cavaleiro da Ordem Romana do Santo Sepulcro.

Seu corpo foi transladado de Florença para o Rio de Janeiro, e, depois de exposto durante vários dias no Arsenal de Guerra, foi provisoriamente sepultado, em janeiro de 1906, no Cemitério São João Batista.


 Paz e concórdia, 1895. Óleo sobre tela, 42 cm x 60 cm.
Masp, São Paulo.


 Independência ou morte, 1888. Óleo sobre tela, 550 cm x 292 cm
Museu Paulista da USP

José Ferraz de Almeida Júnior (1850-1899). Nascido em Itu (SP) e falecido tragicamente em Piracicaba, no mesmo estado. Demonstrando desde a mais tenra idade inclinações artísticas, teve no Padre Miguel Correa Pacheco seu primeiro incentivador, quando era sineiro da Matriz de Nossa Senhora da Candelária, em sua cidade natal. Foi o padre quem obteve, numa coleta pública, o dinheiro suficiente para que o futuro artista, já então com cerca de 19 anos de idade, pudesse embarcar para o Rio de Janeiro, para ali estudar.

Em 1869 Almeida Júnior estava inscrito na Academia Imperial de Belas Artes, aluno de Julio Le Chevrel e de Victor Meirelles. Durante o curso, parece ter sido a principal diversão dos colegas, com seu jeito de caipira, seu linguajar matuto e suas roupas de roceiro.

Terminando o curso, Almeida Júnior, em vez de tentar concorrer ao prêmio de viagem à Europa, preferiu retornar a Itu, onde abriu ateliê, dedicando-se a fazer retratos e a lecionar desenho. O acaso, porém, fez com que um retrato seu fosse apreciado pelo imperador Pedro II, durante uma viagem que realizou em 1875 à Província de São Paulo. Foi chamado à presença do soberano, que já o conhecia da Academia, que lhe perguntou por que não ia aperfeiçoar-se na Europa, oferecendo-se logo em seguida para lhe custear pessoalmente a viagem.

Pouco a pouco, em contato com a terra e os seus habitantes, Almeida Júnior irá substituindo os temas bíblicos pelos regionais, pelos aspectos simples de sua provinciana Itu. Pouco adianta que o governo imperial o agracie com a Ordem da Rosa em 1885, ou que Victor Meirelles o convide a ocupar sua vaga como professor da Academia: nada irá separá-lo da província, mesmo porque se encontra perdidamente apaixonado por sua antiga noiva (agora casada com outro) Maria Laura do Amaral Gurgel, que lhe corresponde à paixão, e a quem retratará várias vezes, nos traços de seus personagens femininos. Na década que vai 1888 a 1898 nascem-lhe as grandes composições regionalistas, que hoje lhe garantem prestígio talvez superior às pinturas realizadas na França: Caipiras negaceando, Cozinha caipira, Amolação interrompida, Picando fumo, O violeiro. Ocorrem, ainda, paisagens de Itu, Piracicaba e Votorantin, sem falar nos retratos.





José Ferraz de Almeida Júnior, Caipira picando fumo, 1893. Óleo sobre tela, 202 cm x 141 cm.
Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Em 1891 e 1896 o pintor realizaria novas viagens à Europa, a última em companhia de Pedro Alexandrino, o qual, com bolsa de estudos do governo de São Paulo, ia aperfeiçoar-se em Paris. Dos anos finais de sua existência datam ainda alguns quadros notáveis, como Leitura (1892), exposto no Salão de 1894, A partida da monção, baseado em desenhos de Hercule Florence e medalha de ouro no Salão de 1898, e finalmente O importuno e Piquenique no rio das Pedras, expostos com mais seis obras, no Salão de 1899, e repletos, ambos, de conotações psicológicas. Infelizmente, a vida e a carreira de Almeida Júnior foram tragicamente truncadas a 13 de novembro de 1899, quando o artista caiu apunhalado, diante do Hotel Central de Piracicaba, por José de Almeida Sampaio, seu primo e marido de Maria Laura, o qual acabara de descobrir a ligação amorosa que existia, havia longos anos, entre a mulher e o pintor.

No panorama da pintura nacional, Almeida Júnior aparece como autêntico precursor. Em sua obra, que abrange pinturas históricas, religiosas e de gênero, retratos e paisagens, repercute uma personalidade que nunca se afastou de suas idéias e convicções. Sua produção não é muito extensa, mas é valiosa do ponto de vista estético, histórico e social. Nela se misturam influências românticas, realistas e até mesmo pré-impressionistas.

Considerado realista, pois suas personagens são gente de carne e osso, que conheceu pessoalmente, gente que tinha nome, comia, vivia, amava. Assim, o modelo para Picando fumo era um tipo popular de Itu; O violeiro era figura notória da cidade.



Essa obra possui uma curiosidade: o pai de Tarsila do Amaral a comprou e a deu de presente a sua filha. Após a morte de Tarsila, a obra foi vendida para a Pinacoteca do Estado de São Paulo com a condição de que nunca fosse retirada do estado de São Paulo.

José Ferraz de Almeida Júnior, O violeiro, 1899. Óleo sobre tela, 141 cm x 172 cmPinacoteca do Estado de São Paulo.









































Nenhum comentário: