“A arte é uma mentira que faz parecer verdade.” Pablo
Picasso
Pablo Picasso foi um dos mais populares artistas de
todos os tempos. Nenhum outro pintor ou escultor causou tanto impacto e tantas
polêmicas, e pôde acompanhar em vida o sucesso e a repercussão de suas obras.
Não apenas seus quadros, mas também o próprio artista tornou-se uma referência
histórica.
Pablo Picasso em Vallauris, França, 1948.
Quando
criança...
O bebê Pablo foi considerado natimorto até que seu tio Salvador debruçou-se sobre ele e soprou-lhe
as narinas uma baforada de seu charuto. Foi o suficiente para trazer o menino à
vida. O dia era 25 de outubro de 1881, na cidade de Málaga, Espanha.
Após o pequeno milagre, os pais, Dona Maria Picasso
López e Dom José Ruiz, batizaram o primeiro filho com uma miscelânea de homenagens a familiares e conhecidos. Mas Pablo Diego
José Francisco de Paula Juan Nepomuceno Maria de Los Remédios Cipriano
Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso ficaria conhecido na história como o ícone Pablo Picasso.
Picasso, que tinha dificuldade de aprendizado devido à
dislexia, descobriu nos desenhos uma
forma de se comunicar e entender o que se passava ao seu redor. Incentivado e
admirado pelo pai, Dom José, também pintor, o menino aprendeu a fazer dos
desenhos a própria realidade.
Indisciplina e rebeldia eram as marcas do jovem Pablo.
Incapaz de se adaptar às regras impostas pelas escolas comuns, a solução
encontrada pelo pai foi matriculá-lo em uma escola de Artes. Aos quinze anos,
foi para a Escola de Belas-Artes de Barcelona. Fazia questão de dirigir os
estudos nos próprios termos, e se gabava
dizendo que não havia nada que seus professores lhe pudessem ensinar.
No prédio (a direita) nasceu Pablo Picasso.
A juventude
de Picasso: entre a pintura e as namoradas
Absorvia o conhecimento rapidamente e sentia
necessidade de aprender cada vez mais. Isto o convenceu de que, na Espanha, não
havia mais lugar para ele – precisava se mudar para Paris, onde tudo acontecia.
Partiu na véspera do décimo nono aniversário. Na bagagem, levava um
autorretrato que fez, intitulado Yo, Rey – Eu, o Rei. Era um talismã que reafirmava seus poderes
para aplacar o medo que sentia ao cruzar pela primeira vez a fronteira
espanhola.
As cores e o barulho da cidade da França o encantaram.
O contato com a cultura parisiense, no auge do impressionismo, logo se refletiu no seu trabalho, que mostrava o
impacto de artistas como Lautrec e Renoir.
As mulheres foram outra fonte de conhecimento para ele
no país. Apesar de não ser propriamente bonito – ao contrário, era baixinho e
robusto, e tinha um gosto excêntrico
para roupas: só andava com gravatas coloridas, casacos berrantes e um cachecol
enrolado no pescoço -, possuía um charme e um magnetismo que o tornavam
irresistível às mulheres.
Pablo Picasso, Las dos Hermanas, 1902. Óleo sobre tela, 152 cm x 100 cm. Museu de Hemitage/San Petesburgo.
Em Paris, seu estilo como pintor amadureceu, e Picasso tentou expressar sua arte por meio da cor azul. Foi sua fase azul. Dominavam nessa fase mendigos, arlequins solitários, mães atormentadas, doentes, famintos, deformados. No meio deles estavam o próprio Picasso e todo o seu sofrimento, expostos em um autorretrato azul.
Aos 23 anos, Picasso sentia-se pronto para dar um salto no desconhecido. Após uma temporada na casa dos pais, os tormentos que o perturbavam se acalmaram e ele resolveu voltar para Paris, determinado a encontrar reconhecimento pelo trabalho. O abrandamento do estado de espírito começava a se refletir nas telas. O azul ainda era predominante, porém um brilho rosa começava a surgir.
Na tarde de 4 de agosto de 1904, Picasso voltava para seu ateliê no meio de uma inesperada tempestade, carregando um gatinho que salvara da chuva, quando uma mulher estonteante cruzou seu caminho, ensopada até os ossos. Picasso postou-se na sua frente e entregou-lhe o gato, apresentando-se. Ambos riram e ele a levou até seu ateliê. A mulher chamava-se Fernande Olivier.
Fernande se tornou sua primeira companheira. A vida que os dois passaram a partilhar mudou a maneira como o pintor encarava suas obras e o próprio relacionamento com as mulheres. O romance teve grandes reflexos nos trabalhos do pintor. A cor rosa passou a predominar nas suas pinturas. Foi a sua fase rosa. Artistas de circo, arlequins, crianças e saltimbancos tomavam o lugar das infelizes figuras do mundo azul. Seus quadros tornaram-se cheios de ternura e esperança.
Aos 23 anos, Picasso sentia-se pronto para dar um salto no desconhecido. Após uma temporada na casa dos pais, os tormentos que o perturbavam se acalmaram e ele resolveu voltar para Paris, determinado a encontrar reconhecimento pelo trabalho. O abrandamento do estado de espírito começava a se refletir nas telas. O azul ainda era predominante, porém um brilho rosa começava a surgir.
Na tarde de 4 de agosto de 1904, Picasso voltava para seu ateliê no meio de uma inesperada tempestade, carregando um gatinho que salvara da chuva, quando uma mulher estonteante cruzou seu caminho, ensopada até os ossos. Picasso postou-se na sua frente e entregou-lhe o gato, apresentando-se. Ambos riram e ele a levou até seu ateliê. A mulher chamava-se Fernande Olivier.
Fernande se tornou sua primeira companheira. A vida que os dois passaram a partilhar mudou a maneira como o pintor encarava suas obras e o próprio relacionamento com as mulheres. O romance teve grandes reflexos nos trabalhos do pintor. A cor rosa passou a predominar nas suas pinturas. Foi a sua fase rosa. Artistas de circo, arlequins, crianças e saltimbancos tomavam o lugar das infelizes figuras do mundo azul. Seus quadros tornaram-se cheios de ternura e esperança.
Mãe e filho, 1906. Fase rosa. Pablo Picasso. Museum of Art, Cleveland, EUA.
A pintura de Picasso amadurecia conforme ele dava vazão às suas inquietações. Ideias de uma arte destrutiva começavam a aflorar. Convencido de que precisava revolucionar a arte, conhece nessa época um pintor que se ornaria um dos seus mais importantes amigos: Georges Braque. Trabalhando lado a lado, os dois pintores lutavam para eliminar de suas obras os traços do tradicionalismo. O mundo que não o aceitara seria agora rejeitado por ele em suas obras. Era o início do cubismo, o movimento revolucionou as técnicas e as estéticas da arte.
O choque causado por suas obras parecia divertir o pintor, que continuava aprimorando com Braque as inovações cubistas.
No campo pessoal, sua relação com Fernande, que já durava sete anos, estava desgastada. Fernande acabou deixando-o por um pintor futurista. Quase simultaneamente, Picasso caiu de amores por Marcelle de Marcoussis, que rebatizou de Eva, como prova de seu amor. Era a primeira mulher que ele verdadeiramente amava. Suas obras já estavam sendo expostas em Munique, Berlim, Praga e Nova York. O reconhecimento que tanto desejara era agora visível e palpável.
As senhoritas de Avignon, 1907. Óleo sobre tela, 244 cm x 233 cm. Pablo Picasso. Museum of Modern Art, Nova York. EUA.
Pablo Picasso. Mosquetero e Amor, 1969. Óleo sobre tela, 152 cm x 100 cm. Museu Ludwig, Colonia.
Momentos difíceis
A morte do pai, seu maior admirador e incentivador, desconcertou o pintor.
Logo depois, a amada Eva adoeceu, com bronquite. Era como se ele estivesse rodeado pela morte. Com o início da primeira guerra, o crescente isolamento - já que a maioria de seus amigos foi convocada - e a visível deterioração da saúde de Eva, além das imagens e notícias do campo de batalha, despertaram o lado mais sombrio da personalidade do artista.
Quando Eva precisou ser hospitalizada em uma clínica do outro lado da cidade, Picasso ficou apavorado com a perspectiva de dormir sozinho e buscou companhia em uma bela jovem parisiense chamada Gaby Lespinasse. Pouco depois, Eva faleceu. O funeral aumentou a crescente sensação de culpa e isolamento que o afligia.
O artista resolveu partir para Roma. Seus planos eram ficar com uma companhia de dança para pintar figurinos e cenários de um novo espetáculo de balé, que se apresentaria nas cidades de Montparnasse e Montmartre. Picasso faria os figurinos e cenários e Erik Satie ficaria responsável pelas músicas. A ideia era ousada: as duas cidades atravessavam uma ferrenha ditadura. Na cidade italiana, ele conheceu uma bailarina russa de 25 anos chamada Olga Koklova, que o fez esquecer de todas as outras desconhecidas casuais que preenchiam suas noites.
Olga representou um desafio para o conquistador, que, acostumado a ter a seus pés as mulheres que queria, precisava se desdobrar para ganhar a atenção da narcisista bailarina. Aos 36 anos, o pintor, que se orgulhava de sempre tero controle absoluto das situações, abraçou o desafio de conquistar Olga.
O pintor parte para Roma
Na Itália, o pintor conheceu outro genial artista que o cativou: Stravinsky foi uma nova descoberta para Picasso e vice-versa. O pintor fascinou-se pelo trabalho, pela figura e pelo dandismo do compositor, com suas calças amarelo-mostarda e sapatos amarelos.
"Quando criança, eu desenhava como Rafael. À medida que fiquei mais velho, passei a desenhar como criança." Pablo Picasso
De volta à França em 18 de maio de 1917, o pintor resolveu se casar com Olga, apesar de todos os sinais de que o relacionamento com ela não teria futuro - os dois sequer tinham uma língua em comum, conversavam em francês, com fortes sotaques russo e espanhol. Se a moça não era sua parceira certa para a vida, ele sabia que ela era sua parceira certa para a sociedade.
Aos 40 anos, Picasso descobriu que seria pai. Para o eterno adolescente, a aceitação de que teria um filho não foi um processo fácil. Em 4 de fevereiro de 1921, Olga deu à luz um menino, a quem chamaram Paulo.O orgulho e o prazer de ser pai deixaram de lado as angústias do pintor, que registrou em uma série de esboços os primeiros meses de Paulo. Mas logo a sensação de desconforto reapareceu, revelando-se em uma sucessão de quadros de mãe e filho intocáveis, isolados e inacessíveis.
Guernica
A raiva e o tormento pessoal de Picasso prenunciavam o horror que se abateria no mundo. Nos seus quadros, a guerra já havia sido declarada pela Alemanha. Em 18 de julho de 1936, chegou a Paris a notícia de que eclodira a guerra civil na Espanha. Os boletins políticos chegavam cada dia mais sangrento.
O governo espanhol encomendou a Picasso uma tela para o pavilhão nacional da Exposição Mundial de Paris. A princípio, o pintor adiou a entrega do pedido, detestando o nível de obrigação da encomenda. Foi preciso o bombardeio de Guernica, uma cidadezinha basca, em 26 de abril de 1937, para mobilizar seu gênio criador. Em apenas um mês, Picasso pintou a tela de 7,8 m x 3,5 m.
Dos 7 mil habitantes de Guernica, 1.600 morreram e a cidade perdeu 70% de sua estrutura com o bombardeio de 43 aviões alemães. Picasso retratava, em sua Guernica, o horror da guerra civil espanhola, da destruição e da tragédia. A repercussão de Guernica foi praticamente imediata. O mundo se rendeu à genialidade de Picasso.
A libertação de Paris, proclamada em agosto de 1944, anunciou um momento decisivo na vida de Picasso. Se antes ele era um pintor mundialmente famoso, agora se tornara uma lenda. Picasso era o símbolo da vitória sobre a opressão, da resistência. Era aclamado e festejado. Foi nesse clima de festa que Picasso se filiou ao Partido Comunista Francês.
Conheceu Françoise. Bem mais jovem do que ele, tinha dificuldade para ser ela mesma no mundo em que tudo girava em torno de Picasso. Consciente da destruição que ele causara às mulheres de sua vida, ela procurava se proteger. Mas Picasso sempre encontrava uma maneira de fazê-la render-se a seus sentimentos. Por isso, ele ficou radiante quando soube que a amante estava grávida.
O nascimento de um menino foi a alegria de Picasso, já com 66 anos. Se dependesse dele,a criança se chamaria Pablo. Era como se o pintor, insatisfeito com primogênito, desse ao segundo varão a honra de ter seu nome, agora com todas as glórias de sua origem espanhola. Mas Françoise achou que dois filhos com o mesmo nome seria demais, e o menino acabou chamando-se Claude Pierre Paul Gilot. Fase do surrealismo.
Aos 40 anos, Picasso descobriu que seria pai. Para o eterno adolescente, a aceitação de que teria um filho não foi um processo fácil. Em 4 de fevereiro de 1921, Olga deu à luz um menino, a quem chamaram Paulo.O orgulho e o prazer de ser pai deixaram de lado as angústias do pintor, que registrou em uma série de esboços os primeiros meses de Paulo. Mas logo a sensação de desconforto reapareceu, revelando-se em uma sucessão de quadros de mãe e filho intocáveis, isolados e inacessíveis.
Guernica
A raiva e o tormento pessoal de Picasso prenunciavam o horror que se abateria no mundo. Nos seus quadros, a guerra já havia sido declarada pela Alemanha. Em 18 de julho de 1936, chegou a Paris a notícia de que eclodira a guerra civil na Espanha. Os boletins políticos chegavam cada dia mais sangrento.
O governo espanhol encomendou a Picasso uma tela para o pavilhão nacional da Exposição Mundial de Paris. A princípio, o pintor adiou a entrega do pedido, detestando o nível de obrigação da encomenda. Foi preciso o bombardeio de Guernica, uma cidadezinha basca, em 26 de abril de 1937, para mobilizar seu gênio criador. Em apenas um mês, Picasso pintou a tela de 7,8 m x 3,5 m.
Dos 7 mil habitantes de Guernica, 1.600 morreram e a cidade perdeu 70% de sua estrutura com o bombardeio de 43 aviões alemães. Picasso retratava, em sua Guernica, o horror da guerra civil espanhola, da destruição e da tragédia. A repercussão de Guernica foi praticamente imediata. O mundo se rendeu à genialidade de Picasso.
Guernica, 1937. Óleo sobre tela. Executado para o pavilhão da República Espanhola, na Exposição Internacional de Paris. o painel tem 350 cm x 782 cm. Encontra-se atualmente exposto no Centro Nacional de Arte rainha Sofia, em Madri, Espanha.
Guernica colorida.
Releitura de Guernica.
Pouco tempo depois, a Segunda Guerra Mundial interferiria na vida de Picasso, prestes a completar 60 anos. Depois que os alemães derrotaram as forças franco-britânicas, Picasso teme por suas obras.
Quando os cofres bancários franceses foram inventariados pelos alemães, o pintor foi chamado ao Banco Nacional. Ele possuía dois cofres contendo pinturas de Cézanne, Renoir, Matisse e, claro, muitos Picassos. Segurando uma de suas pinturas, o chefe dos oficiais nazistas voltou-se para ele, atônito: "Você pintou isso? Por que você pinta desse jeito?" Picasso respondeu que não sabia. Pintara aquele quadro porque o divertira. O oficial nazista compreendeu: "Ah! É uma fantasia!", exclamou. Contente por haver entendido, o oficial colocou todas as "fantasias" de volta ao lugar.
Mais tarde, quando os investigadores foram ao apartamento de Picasso, ficaram impressionados com uma fotografia de Guernica que estava em cima de sua mesa. "Você fez isso? , um dos oficiais perguntou. "Não", respondeu o pintor, "vocês fizeram".
Paris libertada
A libertação de Paris, proclamada em agosto de 1944, anunciou um momento decisivo na vida de Picasso. Se antes ele era um pintor mundialmente famoso, agora se tornara uma lenda. Picasso era o símbolo da vitória sobre a opressão, da resistência. Era aclamado e festejado. Foi nesse clima de festa que Picasso se filiou ao Partido Comunista Francês.
Conheceu Françoise. Bem mais jovem do que ele, tinha dificuldade para ser ela mesma no mundo em que tudo girava em torno de Picasso. Consciente da destruição que ele causara às mulheres de sua vida, ela procurava se proteger. Mas Picasso sempre encontrava uma maneira de fazê-la render-se a seus sentimentos. Por isso, ele ficou radiante quando soube que a amante estava grávida.
O nascimento de um menino foi a alegria de Picasso, já com 66 anos. Se dependesse dele,a criança se chamaria Pablo. Era como se o pintor, insatisfeito com primogênito, desse ao segundo varão a honra de ter seu nome, agora com todas as glórias de sua origem espanhola. Mas Françoise achou que dois filhos com o mesmo nome seria demais, e o menino acabou chamando-se Claude Pierre Paul Gilot. Fase do surrealismo.
Pablo Picasso, Femme en vert (Dora), 1944. Óleo sobre tela, 130 cm x 97 cm.
Fase do surrealismo. Três músicos, verão de 1921. Óleo sobre tela. Pablo Picasso. Philadelphia Museum of Art, Filadélfia, EUA.
A paz de ambos era perturbada apenas por Olga. Mesmo depois de anos de separação, a mãe de seu primeiro filho continuava constantemente atrás do pintor. Os dois estavam atados por laços de mútua aversão. Eram diárias as cartas em que Olga demonstrava raiva do ex-marido, e anexava às cartas retratos de Beethoven, dizendo que Picasso jamais seria tão grande, ou de Rembrandt, com os dizeres: "se você fosse como ele, seria um grande artista". Apesar da constante irritação que as cartas de Olga lhe causavam, Picasso no fundo gostava.
Picasso e o tempo...
Picasso, então, começou uma frenética corrida contra o tempo. Sentia que não podia desperdiçar um minuto. Dividia seu tempo entre inúmeras mulheres, touradas e noitadas. Mas estava infeliz.
A ideia da morte lhe apavorava tanto que ele proibiu os filhos de vê-lo. Para Picasso, eles eram uma constante lembrança de como ele estava velho. Com mais de 80 anos, Picasso perdera a capacidade da alegria.
No outono de 1972, Picasso foi internado com congestão pulmonar. Foi o início de uma luta contra a doença que o levaria à morte. Na manhã do dia 8 de abril de 1973, seus pulmões e coração pararam de funcionar. O gênio estava morto, aos 97 anos.
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