No Brasil deve ser entendido em acepção bem mais ampla, para abarcar também (ou principalmente) a arte e a arquitetura do séc. XVIII. Na verdade, esse estilo já se achava no ocaso na Europa quando no Brasil experimentava seu maior florescimento, como demonstram os Doze Profetas, de Aleijadinho, e a pintura em perspectiva no forro da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, de Manoel da Costa Atayde, uns e outra concluídos por volta de 1808-1809, portanto já no séc. XIX.
O séc. XVIII é considerado a idade de ouro do Brasil (na expressão de Charles R. Boxer), por ser aquele em que se descobriram quantidades significativas de ouro e pedras preciosas, numa região que por isso mesmo se tornaria conhecida como das Minas Gerais. O fato de Minas ter servido de cenário nesse período para um surto de efervescência artística, não foi mera coincidência. Na América Colonial portuguesa e em zonas de mineração como Ouro Preto no Brasil, se localizaram os principais centros de irradiação artística e cultural.
O barroco brasileiro apresenta-se menos rebuscado e mais sóbrio. Desenvolvido desde cedo por mão de obra negra e principalmente mulata, ficou mais próximo do povo. Essa mulatização do barroco no Brasil acabou emprestando sabor peculiar à arte brasileira do setecentos, nela obviamente também incluída a pintura, transformando-a numa variante dialetal da linguagem original.
Observando atentamente as várias vertentes em que se disseminou o barroco pelo país, ver-se-à que a rigor podem ser resumidas a duas apenas. O barroco litorâneo, de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, e o barroco interiorano, que é principalmente o de Minas Gerais.
Os Doze Profetas. Obras de Aleijadinho na Basílica de Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais. Foto de Daniel Cymbalista.
Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões, conhecida como Mercês de Baixo. Ouro Preto, Minas Gerais. Foto de Marcos Peron/kino.com.br
No litoral, o barroco trazido da Europa manteve-se menos independente, mais atado à metrópole. No interior, o estilo viu-se obrigado pelas circunstâncias a adotar soluções próprias, tornando-se mais original. Por isso, muitos estudiosos costumam ver na arte mineira do séc. XVIII a expressão mais brasileira do barroco no Brasil, enquanto a arte da Bahia, por exemplo, conserva-se bem mais "portuguesa". Há ainda uma outra distinção fundamental entre o barroco mineiro e o baiano: este último reflete os gostos de uma sociedade rural aristocrática, sendo, por conseguinte, mais requintado; enquanto aquele nasce numa sociedade urbana e ideologicamente burguesa, enriquecida a duras penas na mineração e avessa a ostentações.
Interior da Igreja de São Francisco, Bahia. Foto de Ricardo Azoury/ Pulsar Imagens.
No Brasil do séc. XVIII a pintura, do mesmo modo que as demais artes e ofícios, continuava sendo praticada, ensinada e orientada por religiosos jesuítas, beneditinos, franciscanos, dominicanos, terésios, etc.
Sendo esses padres, monges, frades ou irmãos terceiros não somente portugueses, mas também alemães, franceses, italianos, espanhóis, austríacos, belgas e de outras nacionalidades, ocorreu que muitas características e peculiaridades de diversos estilos nacionais contribuíram para o enriquecimento do barroco brasileiro.
Na pintura setecentista brasileira predomina a temática religiosa, embora existam retratos, umas raras decorações de tema profano e até pagão e, ainda mais escassas, interpretações estilizadas da paisagem local. A pintura de cavalete só excepcionalmente foi praticada, com ênfase na pintura arquitetônica. Sobretudo após 1732 experimentou grande desenvolvimento a pintura perspectivista ou invenção jesuítica. Em nosso país, mencionem-se Caetano da Costa Coelho, Manoel da Costa Atayde, José Joaquim da Rocha e João de Deus Sepúlveda, entre outros. Diga-se ainda que raras vezes a pintura trocou a atmosfera de igrejas e convento pelo ambiente familiar. Desempenhando função ao mesmo tempo religiosa e social, poucas pessoas a tiveram em suas moradas, fossem elas palácio ou mansão.
Coroação de Nossa Senhora da Conceição. Pintura de Atayde no forro da nave da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Foto de Werner Hudhart / Kino.
Os pintores setecentistas brasileiros socorreram-se de modelos europeus para produzirem suas próprias composições. Procuraram não em outras pinturas - não as havia por aqui -, porém em estampas e ilustrações de missais, breviários e livros de horas flamengos, franceses, italianos, etc. Daí resulta a singular dicotomia que oferecem certas obras, nas quais uma composição apurada, segundo os melhores preceitos da arte, contrapõe-se ao desenho ingênuo e ao colorido singelo. Esses modelos europeus emprestam a muitas pinturas brasileiras do séc. XVIII ou já do séc. XIX aparência bem mais antiga: como entender de outro modo que uma obra repleta de pormenores arcaicos ou primitivos, por exemplo, a Ceia, de Atayde, foi na verdade pintada em 1828?
As principais regiões de produção pictórica no séc. XVIII foram Bahia e Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro, seguindo-se outras, como São Paulo, Grão-Pará ou Mato Grosso, em que essa arte não conheceu desenvolvimento particularmente notável. A cada uma destas últimas regiões, embora sejam conhecidos os nomes de vários pintores e a autoria de diversas obras, prevalecem as pinturas de paternidade ignorada à espera de quem as identifique. Tarefa ainda agravada pelo mau ou péssimo estado de conservação em que se encontram quase todas. Além disso, em recibos e termos de empreitadas conservadas em arquivos, há frequentes menções a nomes de pintores, sem que se possa identificar ao certo o autor das obras.
Antônio Francisco Lisboa, escultor e arquiteto (1730-1814), Aleijadinho, como era chamado o famosos escultor, foi um dos ícones mais importantes do barroco. Usava dinamismo e expressividade em suas obras, que lhe valeram lugar de destaque na arte internacional de sua época.
Devido a problemas de saúde não pôde assumir pessoalmente a direção de seus projetos arquitetônicos e por esse motivo dedicou-se mais à escultura. Suas obras-primas são estátuas de pedra-sabão, que retratam os doze profetas, na igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (1800-1805), e as 66 estátuas de cedro que compõem os passos da Via Crucis (1796).
O estilo rococó aparece em Minas Gerais, na Bahia e em algumas igrejas espalhadas pelos outros estados do Brasil.
Muitas peças do mobiliário da nobreza (época imperial do Brasil) foram trabalhadas nos etilos barroco e rococó.
Era comum peças de credência desse tipo serem usadas aos pares, tanto em residências como em igrejas. Sobre essas peças colocavam-se espelhos e jarrões. A pintura, imitando a chinesa, era o acharoado português.
Além das igrejas, apareceram casas, sobrados, chafarizes, fortes, câmaras municipais e algumas fazendas em estilo barroco no Brasil.
Interior da Igreja de São Francisco, Bahia. Foto de Ricardo Azoury/ Pulsar Imagens.
No Brasil do séc. XVIII a pintura, do mesmo modo que as demais artes e ofícios, continuava sendo praticada, ensinada e orientada por religiosos jesuítas, beneditinos, franciscanos, dominicanos, terésios, etc.
Sendo esses padres, monges, frades ou irmãos terceiros não somente portugueses, mas também alemães, franceses, italianos, espanhóis, austríacos, belgas e de outras nacionalidades, ocorreu que muitas características e peculiaridades de diversos estilos nacionais contribuíram para o enriquecimento do barroco brasileiro.
Na pintura setecentista brasileira predomina a temática religiosa, embora existam retratos, umas raras decorações de tema profano e até pagão e, ainda mais escassas, interpretações estilizadas da paisagem local. A pintura de cavalete só excepcionalmente foi praticada, com ênfase na pintura arquitetônica. Sobretudo após 1732 experimentou grande desenvolvimento a pintura perspectivista ou invenção jesuítica. Em nosso país, mencionem-se Caetano da Costa Coelho, Manoel da Costa Atayde, José Joaquim da Rocha e João de Deus Sepúlveda, entre outros. Diga-se ainda que raras vezes a pintura trocou a atmosfera de igrejas e convento pelo ambiente familiar. Desempenhando função ao mesmo tempo religiosa e social, poucas pessoas a tiveram em suas moradas, fossem elas palácio ou mansão.
Coroação de Nossa Senhora da Conceição. Pintura de Atayde no forro da nave da Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto. Foto de Werner Hudhart / Kino.
Os pintores setecentistas brasileiros socorreram-se de modelos europeus para produzirem suas próprias composições. Procuraram não em outras pinturas - não as havia por aqui -, porém em estampas e ilustrações de missais, breviários e livros de horas flamengos, franceses, italianos, etc. Daí resulta a singular dicotomia que oferecem certas obras, nas quais uma composição apurada, segundo os melhores preceitos da arte, contrapõe-se ao desenho ingênuo e ao colorido singelo. Esses modelos europeus emprestam a muitas pinturas brasileiras do séc. XVIII ou já do séc. XIX aparência bem mais antiga: como entender de outro modo que uma obra repleta de pormenores arcaicos ou primitivos, por exemplo, a Ceia, de Atayde, foi na verdade pintada em 1828?
As principais regiões de produção pictórica no séc. XVIII foram Bahia e Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro, seguindo-se outras, como São Paulo, Grão-Pará ou Mato Grosso, em que essa arte não conheceu desenvolvimento particularmente notável. A cada uma destas últimas regiões, embora sejam conhecidos os nomes de vários pintores e a autoria de diversas obras, prevalecem as pinturas de paternidade ignorada à espera de quem as identifique. Tarefa ainda agravada pelo mau ou péssimo estado de conservação em que se encontram quase todas. Além disso, em recibos e termos de empreitadas conservadas em arquivos, há frequentes menções a nomes de pintores, sem que se possa identificar ao certo o autor das obras.
Antônio Francisco Lisboa, escultor e arquiteto (1730-1814), Aleijadinho, como era chamado o famosos escultor, foi um dos ícones mais importantes do barroco. Usava dinamismo e expressividade em suas obras, que lhe valeram lugar de destaque na arte internacional de sua época.
Devido a problemas de saúde não pôde assumir pessoalmente a direção de seus projetos arquitetônicos e por esse motivo dedicou-se mais à escultura. Suas obras-primas são estátuas de pedra-sabão, que retratam os doze profetas, na igreja de Nosso Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo (1800-1805), e as 66 estátuas de cedro que compõem os passos da Via Crucis (1796).
O estilo rococó aparece em Minas Gerais, na Bahia e em algumas igrejas espalhadas pelos outros estados do Brasil.
Muitas peças do mobiliário da nobreza (época imperial do Brasil) foram trabalhadas nos etilos barroco e rococó.
Era comum peças de credência desse tipo serem usadas aos pares, tanto em residências como em igrejas. Sobre essas peças colocavam-se espelhos e jarrões. A pintura, imitando a chinesa, era o acharoado português.
Além das igrejas, apareceram casas, sobrados, chafarizes, fortes, câmaras municipais e algumas fazendas em estilo barroco no Brasil.
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